1 de junho de 2015

Desgosto pelo estudo, Antonio Gois

01 de junho de 2015
"Razão mais citada entre jovens para explicar por que abandonaram a escola é simplesmente não gostar dela", afirma Antônio Gois

Fonte: O Globo (RJ)



Quase um terço dos brasileiros entre 15 e 19 anos estão fora da escola. Em números absolutos, são 5,5 milhões de jovens que, por diversos motivos, não frequentam mais uma sala de aula. O que mais preocupa nessa estatística, tabulada a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, é que só 40% desses que pararam de estudar concluíram ao menos o ensino médio. A maioria tem apenas o diploma de ensino fundamental (27%) ou nem isso (33%). Caso não voltem a estudar, são sérios candidatos a engrossarem estatísticas de desemprego ou trabalho precário para o resto de suas vidas.
Os motivos que levam esses jovens a desistirem do estudo ainda precisam ser melhor investigados. Uma certeza, porém, já podemos ter: o problema principal não é falta de vagas. Numa pesquisa feita em 2012 pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para acompanhar suas ações e programas (a PADS), foi incluída uma pergunta sobre as razões do abandono escolar. Dos jovens de 15 a 19 anos fora da escola, apenas 3% disseram que não haviam conseguido uma vaga ou que aguardavam transferência.
Das razões externas à escola, a gravidez (9%) ou a necessidade de cuidar da própria saúde ou de alguém doente (5%) aparecem como relevantes. Esses dois motivos são especialmente citados entre os jovens mais pobres, segmento em que respondem, juntos, por 16% dos casos de evasão. Entre os mais ricos, das classes A e B, a taxa é zero. Dentre os motivos extraescolares, não surpreende que a razão mais citada seja o abandono do estudo para trabalhar, explicação dada por 28% dos jovens brasileiros.
No que diz respeito à escola, é grave constatar que a razão mais citada, por 28% dos jovens evadidos, foi simplesmente “não gostar de estudar”. E há ainda outros 2% que disseram ter “desanimado” após seguidas reprovações.
Não é a primeira vez que uma pesquisa nacional aponta o desinteresse pelo estudo como causa principal, à frente do trabalho ou da falta de vagas, para a evasão escolar entre jovens. Em 2006, ao investigar o assunto, o IBGE detectou que 34% dos brasileiros de 15 a 19 anos estavam fora da escola porque não queriam estudar. Os que citaram o trabalho foram 21%, e a falta de vagas apareceu, naquele ano, apenas em 3% das respostas. Ainda que as duas pesquisas, do IBGE e do MDS, não sejam perfeitamente comparáveis, elas contam, ao final, a mesma história.
Considerar essa realidade é ainda mais relevante num contexto em que o país se mobiliza para tentar garantir que todo brasileiro de 15 a 17 anos esteja na escola. A meta consta do Plano Nacional de Educação (PNE) e deveria ser atingida no ano que vem, mas já sabemos que não será alcançada no prazo. No caso de crianças pequenas, a vontade dos pais, a oferta de vagas pelo poder público e a atuação da Justiça na garantia do direito de estudar são, na maioria dos casos, estratégias suficientes. Mas, no caso do jovem, se ele não quer estudar, nada disso adianta.
Outra estratégia ineficaz para esse público é apenas ampliar a jornada escolar. A meta também aparece no PNE, sendo uma das que mais demandará recursos públicos. Sem melhoria da qualidade do ensino e sem reformulação desse currículo repleto de conteúdos inúteis para boa parte dos alunos, insistir em oferecer mais do mesmo para um jovem que diz não gostar da escola será apenas perda de tempo e dinheiro.

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