11 de junho de 2015

ROGÉRIO GENTILE Matemática ou teatrinho?


SÃO PAULO - O secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, deu duas declarações muito preocupantes dias atrás.
A primeira deve ser atribuída à típica privação do sentido da visão que costuma afetar os governantes após certo tempo no cargo. O secretário de Alckmin afirmou que é um exagero considerar como "ruim" o ensino público praticado no Estado, que enfrenta a maior greve de sua história (88 dias).
Não custa lembrar: desconsiderando as escolas técnicas (que não pertencem à pasta de Herman), a rede pública paulista não tem nenhum colégio dentre os 3.900 melhores do país, segundo o ranking do Enem. A rede privada de São Paulo contabiliza 1.131 nessa lista. Será que está realmente tudo bem no ensino oferecido pelo governo estadual?
A segunda afirmação merece mais atenção do leitor, pois indica que, se for isso mesmo, a situação tende a descambar de vez. Herman, que prepara uma mudança curricular do ensino médio a partir da qual o próprio aluno deverá montar sua grade, disse que, pela proposta em discussão, o "estudante que odeia matemática poderá optar por artes ou idiomas".
É necessário dizer que o projeto tem o mérito de partir de uma premissa correta. O currículo, que tem um excesso de disciplinas (12) e de conteúdo, precisa mudar. Como diz Claudio de Moura Castro, com tanta matéria, o aluno ouve falar de tudo, mas não aprende nada.
Faz sentido também oferecer um leque de opções ao aluno, de modo que ele possa se aprofundar na linha de estudo que mais lhe atrai (científica, humana etc.). A afinidade do estudante com o aprendizado reduz o risco de evasão, um dos grandes problemas na educação no país (7,2%).
Flexibilizar o currículo, porém, não pode significar o desprezo ao conteúdo básico, como sugeriu o secretário. Aulas de música ou teatro não substituem, em lugar nenhum, a importância de aprender a manejar números e de dominar a sua língua.

Folha de S.Paulo, 11/6/2015

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