16 de junho de 2015

Pesquisa revela insatisfação com excesso de teoria e falta de prática do atual modelo de ensino



16 de junho de 2015
Estudo da Fundação Lemann mostra como jovens e professores enxergam a Educação no Brasil

Fonte: O Globo (RJ)



O atual modelo de ensino no Brasil não prepara os jovens para a vida. Há excesso de conteúdo, e pouco espaço para desenvolver habilidades que permitam a eles usar o conhecimento em atividades práticas. É desta forma que o jovem vê o ensino básico no Brasil, segundo a pesquisa Projetos de Vida, feita pela Fundação Lemann, com o objetivo de contribuir para as discussões de reforma do currículo em andamento na construção da Base Nacional Comum (BNC). A visão negativa aparece não apenas no depoimento dos que acabaram de entrar na faculdade. Ela também é compartilhada por especialistas, professores universitários, empregadores e ONGs. Ou seja, todos concordam que o atual modelo não prepara os jovens para a vida. Há excesso de conteúdo e pouco espaço para desenvolver habilidades.
— A sociedade espera que os jovens sejam capazes de aplicar os conhecimentos aprendidos na escola em situações reais. Na universidade, professores esperam que os jovens consigam, por exemplo, articular suas opiniões e se expressar com clareza para defender um argumento em sala — afirma Camila Pereira, diretora de Políticas Educacionais da fundação. — Um jovem no seu primeiro emprego quer usar seus conhecimentos de matemática para interpretar gráficos e tabelas. A sociedade espera que os jovens saiam da escola tendo desenvolvido uma série de habilidades, não tendo aprendido apenas uma lista de conteúdos.
O levantamento foi feito a partir de 126 entrevistas em profundidade com jovens, empregadores, professores universitários, especialistas e ONGs.
Os próprios estudantes afirmaram que sentiram deficiências em suas formações. Além do entendimento de que a escola não forma o jovem para a vida, outras conclusões da pesquisa são a percepção de que a escola usa métodos atrasados e inadequados. Apareceu também, principalmente por parte de empregadores e professores, a demanda por habilidades socioemocionais, como foco, persistência, autonomia e curiosidade.
A pesquisa entrevistou jovens com boas notas no Enem. Foram eles que afirmaram que a escola não prepara, não traz autonomia e não faz com que o aluno descubra suas aptidões. Como contraponto, pedem aulas mais dinâmicas, exemplos práticos e professores que troquem experiência sobre o que acontece após a entrega do diploma.
Karina Madruga, de 17 anos, já viveu entre os dois mundos. Ela reclama que seu antigo colégio era conteudista e que tudo se resumia a testes e provas. Atualmente no 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Chico Anysio, considerada uma unidade de referência no Rio, a aluna afirma que a educação pode ser diferente.

— Num todo, a escola é atrasada, mas há exceções. Já estudei em um colégio cujo único objetivo era ter uma boa nota na prova. Hoje, vejo que o colégio pode ser um lugar para o desenvolvimento de habilidades positivas como o trabalho em equipe, a iniciativa e a busca pelo conhecimento. Isso tudo sem ser estimulada uma competição como nas escolas tradicionais — afirma Karina, que sonha em cursar Direito na Uerj e ter seu próprio escritório.
PARA FACULDADES, POSTURA É MAIS IMPORTANTE
Esse desenvolvimento de habilidades é visto como fundamental para professores universitários e empregadores. Falta de entendimento de instruções, dificuldades para se expressar e medo de repreensão são três das dificuldades vistas no jovem formado quando vai para a faculdade ou está em seu primeiro trabalho, de acordo com o levantamento.
— Penso que a escola tem que ser um local onde o aluno tenha uma formação boa em conteúdo, mas também crie e aprimore competências. Ele deve começar a desenvolver autonomia, comprometimento, proatividade e trabalho em equipe nesse período. Não é para ele se formar e já ser excelente nessas habilidades, mas não pode ser algo que começa do zero — afirma Jacqueline Resch, diretora da consultoria Resch, especializada em recrutamento, que a pedido do GLOBO comentou os resultados da pesquisa.
A situação no ensino superior também não é favorável para o atual aluno oriundo do ensino básico. Na pesquisa, os professores universitários afirmaram que o estudante precisa ser proativo e se antecipar às ordens, além de executar as tarefas de forma adequada. Para eles, a postura é mais importante do que o conhecimento específico.
Henrique Neto, chefe do Centro de Graduação da Fundação Getúlio Vargas, concorda com o diagnóstico da pesquisa:
— O colégio prepara o aluno para fazer o Enem e não para ver o mundo. Muitas vezes é dada para a universidade a responsabilidade de realfabetizar o aluno. A formação tem que pensar na autonomia, na resiliência, na ética. Temos que voltar à pergunta principal: ensinar o quê? Esta discussão precisa ser feita pela sociedade para que o aluno formado possa ser um profissional e um cidadão melhor.
Foi nesta perspectiva que a pesquisa entrevistou ONGs para saber o que falta na formação dos jovens para que sejam cidadãos mais atuantes.

— O colégio tem que ser mais formativo, se pautar em valores. A escola de hoje não oferece isso, mas não é culpa dela. É do modelo. Ele está voltado para um saber acadêmico direcionado a uma escola que era só para as elites. A sociedade mudou, mas o modelo escolar não. O colégio tem que passar a pensar as habilidades que este jovem pode desenvolver — diz Maria Thereza Marcilio, gestora da ONG Avante, direcionada a direitos educacionais.
Apesar dos vários problemas apontados, a solução parece ter um ponto inicial comum: um novo modelo educacional. Em termos práticos, os autores da pesquisa veem na construção da Base Nacional Comum (BNC) uma matriz sobre o essencial a ser aprendido, uma oportunidade para que a escola deixe de ser alvo de críticas.
— A BNC, que começou a ser construída pelo MEC, é uma grande oportunidade para reduzir a desconexão entre o que é ensinado nas escolas e as habilidades realmente essenciais para os jovens. Como ela deve ser parte dos currículos de todas as escolas do país, se essa base tiver grande qualidade e definir os conhecimentos e habilidades essenciais que todos devem aprender, ela pode ajudar o Brasil a avançar bastante — afirma Camila Pereira.


Pesquisa mostra desconexão entre o que é ensinado na escola e o que jovens precisam para suas vidas

16 de junho de 2015
Estudo da Fundação Lemann, com apoio técnico do Todos Pela Educação, contribui para o debate sobre o que se espera que os alunos aprendam

Fonte: Fundação Lemann


Será que o que é ensinado na escola prepara os jovens para a faculdade, o mercado de trabalho, o exercício da cidadania e a vida em sociedade? Em outras palavras, será que a escola está conseguindo preparar os jovens para que sejam capazes de concretizar os seus diferentes projetos de vida?

A pesquisa Projeto de Vida, feita pela Fundação Lemann, com apoio técnico do Movimento Todos pela Educação, buscou respostas para essas perguntas e demonstra que há uma grande desconexão entre o que se ensina na escola e o que os jovens precisam para seguir a vida.

Os resultados da pesquisa contribuem para o debate sobre o que se espera alunos aprendam na escola, de forma que estejam preparados para uma vida plena e produtiva após a conclusão da Educação Básica. Essa é uma questão fundamental no momento em que o Ministério da Educação inicia o trabalho de construção da Base Nacional Comum, que irá definir os conhecimentos e habilidades que todos os alunos devem aprender.

Foram ouvidos jovens de 20 a 21 anos, que concluíram o Ensino Médio em escolas públicas e tiveram notas acima da média no Enem; empregadores; professores universitários; especialistas em educação e organizações da sociedade civil que atuam na formação e orientação dos jovens. Assim, pretendeu-se ter uma visão completa de todos os agentes envolvidos no momento em que um aluno brasileiro finaliza a escola.

“Quando comecei a trabalhar em loja, me perguntaram se eu tinha noção de inglês, eu disse que sim, mas quando precisei, vi que não sabia nada.”Jovem de Porto Alegre
O que se descobriu foi que mesmo estes jovens tendo tido um bom resultado no Enem, de acordo com seus empregadores e professores universitários eles têm dificuldades em conteúdos básicos: não conseguem escrever textos simples como e-mails e não conseguem interpretar matemática básica para calcular trocos.

“Aprendi um monte de coisa em matemática que não serviu para nada, mas quando tive que analisar uns gráficos, custei muito a entender."Jovem de Porto Alegre

Além disso, os alunos indicam que não veem aplicação prática no que aprendem na escola e não entendem como usar os conhecimentos nela aprendidos em seu futuro profissional ou acadêmico

“Eu já tive jovens dispensados por não apresentarem nenhuma capacidade em trabalhar em equipe. Pessoas com conhecimentos sólidos, mas achavam que sabiam tudo e só viam uma forma de fazer…”
Empregador de Porto Alegre, comércio de pequeno porte

Assunto importante que apareceu espontaneamente na pesquisa, sem que tivesse sido mencionada pelos entrevistadores, foi a necessidade das chamadas habilidades socioemocionais. Professores e empregadores apontam que elas podem ser até mais importantes do que os “conteúdos” em si, e que muitas vezes não são desenvolvidas junto aos jovens.

Quer saber mais sobre o que pensam os entrevistados da Projeto de vida? Leia a pesquisa e conheça também as recomendações feitas por especialistas em educação sobre seus desdobramentos para a Base Nacional Comum.


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