10 de setembro de 2016

O Saeb e a crise do ensino médio


A edição de 2015 do Saeb mostrou assim que, apesar dos avanços obtidos pelos estudantes do ensino fundamental até o 5.º ano, o ganho acaba se perdendo nas séries à frente, especialmente no ensino médio

Apesar de o País ter vencido a barreira da universalização do ensino básico no início da década de 2000, o sistema escolar continua muito atrasado com relação à qualidade da educação, sem condições de oferecer às novas gerações a qualificação técnica e intelectual de que necessitam para se inserir num mercado de trabalho cada vez mais exigente. Essa é a conclusão a que se pode chegar com base nos números da edição de 2015 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que engloba o ensino fundamental e o ensino médio.
Os números revelam que, em matemática, o nível de aprendizagem dos estudantes do ensino médio foi o mais baixo desde que o Saeb foi implantado, em 2005. Em português, o nível de aprendizagem nesse ciclo de ensino subiu de 264 para 267 pontos, entre 2013 e 2015. Contudo, permanece em patamares muito baixos. Na prática, isso significa que o ensino médio se encontra numa situação crítica, sem transmitir informações mínimas para justificar a diplomação dos alunos. Eles conhecem pouco mais do que as quatro operações aritméticas, sendo incapazes de fazer cálculos simples de probabilidade – problema que coloca em risco o desenvolvimento das áreas de engenharia e tecnologia. Também não conseguem ler e interpretar textos nem escrever uma redação simples.
Com relação ao ensino fundamental, o cenário é um pouco melhor do que o do ensino médio. O Saeb mostra que, em português, o nível de aprendizagem pulou de 196 para 208 pontos, entre 2013 e 2015 – 8 a mais do que parâmetro adequado para essa etapa. Foi o maior salto desde o início da série histórica da avaliação nessa disciplina. Em matemática, o indicador passou de 211 para 219 pontos, tendo, porém, ficado num patamar abaixo do esperado nesse ciclo de ensino.
A edição de 2015 do Saeb mostrou assim que, apesar dos avanços obtidos pelos estudantes do ensino fundamental até o 5.º ano, o ganho acaba se perdendo nas séries à frente, especialmente no ensino médio. O Saeb é calculado a cada dois anos e leva em conta, entre outros indicadores, a Prova Brasil. A última foi aplicada entre novembro e dezembro do ano passado aos 4,5 milhões de estudantes do 5.º e do 9.º anos de 50 mil escolas públicas das redes municipais, estaduais e federal. No ensino médio, a aplicação da prova é por amostragem.
O trágico cenário retratado pelo Saeb no ensino médio, que constitui o maior gargalo da educação brasileira, fez soar mais um sinal de alerta entre os especialistas do setor. Há pelo menos 15 anos os ministros da Educação prometem mudanças nesse ciclo de ensino, mas nada de concreto foi feito até hoje. Alegando que o ensino médio sofre uma crise de identidade, pois não prepara os alunos nem para o vestibular nem para o mercado de trabalho, dirigentes escolares reclamam da falta de articulação entre a União, Estados e municípios. Também lembram que as 13 disciplinas desse ciclo de ensino estão em descompasso com a realidade econômica brasileira.
Apesar de procedentes, essas críticas não são novas. O problema é que os esforços para a definição de uma nova estrutura curricular – que deveria ficar pronta até o final do ano – foram minados por propostas inconsequentes e discussões ideológicas no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. “O retrocesso do ensino médio significa uma queda no preparo dos alunos para o século 21”, diz Priscila Cruz, do movimento Todos pela Educação. “O ensino médio chegou ao fundo do poço. Não dá mais para esperar mudanças”, afirma Mozart Ramos, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-membro do Conselho Nacional de Educação.
Eles estão certos. O Saeb de 2015 mostra como as prioridades educacionais equivocadas dos governos Lula e Dilma, conjugadas com modismos pedagógicos, interesses eleiçoeiros e concessões corporativas, travaram a modernização do sistema de ensino do País. Revela, assim, o tamanho do desafio que o novo governo terá de enfrentar para reerguer o ensino médio e melhorar a qualidade do ensino básico.
Estado de S.Paulo, 10/09/2016

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