13 de setembro de 2016

Receitas de sucesso: Ideb nos fornece pistas sobre o que pode funcionar na educação, mas olhar apenas para os extremos pode ser enganoso


POR ANTÔNIO GOIS
O Estado do Amazonas foi o que mais avançou no Ideb de 2013 a 2015 entre as redes estaduais no ensino médio. Foi também uma das poucas unidades da federação a alcançar a meta estipulada pelo MEC (junto de Pernambuco, Goiás e Piauí). Várias ações foram implementadas no Amazonas, mas uma que ganhou destaque em algumas reportagens foi o fato de o estado pagar um bônus por desempenho aos professores. Vale lembrar que Pernambuco, estado que apresenta hoje o melhor Ideb do país no ensino médio, também adota uma política de bônus. Uma análise simplista concluiria que, se os dois estados adotam bônus e conseguiram resultados bem melhores que a média do país, logo, isto prova que essa política é eficiente e deveria ser adotada em todos os Estados.
Mas não é bem assim. Num estudo divulgado no ano passado em encontro da Associação Brasileira de Avaliação Educacional, os pesquisadores Luiz Guilherme Scorzafave, Juliana Ferreira e Tulio Anselmi Dorigan listaram 13 redes estaduais que, desde 2011 ou antes, adotavam essa política. Entre elas está Sergipe, estado que apresentou o menor Ideb do país no ensino médio, e também a Paraíba, que ficou apenas na 21a posição no ranking de 27 estados. Assim como o simples fato de a política existir em Pernambuco e Amazonas não prova que ela é eficiente, também não podemos pegar o outro extremo para simplesmente concluir que ela não presta. O ponto aqui é que, numa análise séria sobre o que está funcionando em políticas públicas educacionais, não podemos apenas pinçar exemplos isolados tirados de redes no topo ou na rabeira do ranking. É preciso uma investigação mais profunda. (leia coluna sobre o tema, citando vários estudos sobre bônus, aqui)
Outro ponto importante a considerar antes de sair replicando acriticamente receitas de sucesso é que, em educação, uma mesma política pode ter resultados bastante diversos, a depender da forma como foi implementada. De novo vale a pena olhar para o caso de Pernambuco, estado que mais investiu na ampliação do horário integral no ensino médio. É bem provável que esse investimento explique em boa parte o fato de o Estado ter se destacado no Ideb.
Acontece que um estudo recente da Fundação Itaú Social e do Banco Mundial sobre o programa do MEC Mais Educação mostrou, ao menos numa primeira análise, que a ampliação do horário integral ainda não estava resultando em melhor desempenho dos alunos. O estudo não é conclusivo, pois há outras variáveis a serem investigadas, e talvez seja necessário mais tempo até que o investimento dê retorno. (leia um texto sobre o estudo aqui) Mas outros estudos sobre o tema nos alertam que não é desprezível o risco de ampliação do horário integral não resultar em melhoria da aprendizagem. A forma como uma mesma política é implementada em diferentes locais faz toda a diferença.
O Ideb é uma ferramenta importante para jogar luz sobre escolas ou redes que têm conseguido bons resultados. Há, porém, um cuidado a ser tomado. Na melhor das hipóteses, o que o indicador nos traz são pistas a serem investigadas, e não receitas simples de sucesso. E o risco é ainda maior quando olhamos apenas para os extremos. Escrevi para o site da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) um texto contando histórias de alguns erros cometidos pela imprensa desde a divulgação do primeiro Ideb. Conto, por exemplo, o caso de uma cidade que foi retratada como receita de sucesso para o resto do país em 2005, mas que nos anos seguintes desapareceu das primeiras posições do ranking.

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