"A análise dos dados disponíveis deixa claro que o crescimento da ciência brasileira decorre fundamentalmente da participação dos alunos de pós-graduação nas atividades científicas"
Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, diretor de Programas do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, ex-secretário executivo do MCT e ex-secretário estadual de C&T do Rio de Janeiro. Eloi Garcia é coordenador de Programas do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz. Artigo publicado no "Jornal do Brasil":
É sempre bom celebrar as grandes vitórias conquistadas. Tem crescido de forma expressiva a participação brasileira no cenário internacional no campo da ciência e tecnologia, área que assegura uma posição de relevância no Brasil nos próximos anos entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estamos hoje entre os principais produtores de conhecimento no mundo.
Isto se deve a dois fatores principais: primeiro, o apoio crescente e constante das agências de fomento do governo federal, sobretudo a Capes e o CNPq e das fundações estaduais de Apoio à Pesquisa, na formação de recursos humanos em cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado).
O crescimento significativo na área da pós-graduação, da ordem de 270% nos últimos dez anos, levou ao credenciamento de 1.421 programas de doutorados e 2.435 de mestrado, considerando-se somente as áreas de ciências biológicas e medicina. Em todas as áreas da Capes, formamos mais de 10 mil doutores/ano e ainda temos que crescer muito mais.
O segundo fator é o aumento crescente nos recursos disponibilizados pelo sistema de C&T, que inclui os governos federal e estaduais, permitindo a organização de uma infraestrutura laboratorial invejável, como nunca conseguida anteriormente.
A junção destes dois fatores tem levado a uma ampliação do prestígio da ciência brasileira em nível internacional - que pode ser avaliada de várias maneiras, como a participação de pesquisadores brasileiros em comitês editoriais de importantes revistas editadas no exterior - e ao aumento inquestionável no número de artigos publicados em revistas de impacto internacional bem como convites para palestras em congressos internacionais relevantes.
No Brasil, apesar do crescimento acima mencionado ainda existe um grande déficit na formação de pessoal qualificado. Precisamos formar mais doutores e procurar alcançar nossa relação doutor/população com aquelas encontradas em países como os EUA, Inglaterra, Alemanha e outros.
A análise dos dados disponíveis deixa claro que o crescimento da ciência brasileira decorre fundamentalmente da participação dos alunos de pós-graduação nas atividades científicas. Nas melhores instituições universitárias e de pesquisa do país, aproximadamente 85% dos artigos publicados contam com a ativa participação dos alunos de pós-graduação. Os doutores que temos formado estão sendo disputados, como nunca, pelos laboratórios internacionais, para realizarem estágios de pós-doutorado ou mesmo como bolsistas de doutorados-sanduíche.
Ao longo dos 35 anos em que temos exercido atividade científica em universidades e institutos de pesquisa brasileiros nunca recebemos tantas solicitações de colegas do exterior para enviar nossos doutores para estágio pós-doutoral bem como para colaborações através de programas financiados pela Capes e CNPq. Também temos recebido inúmeras mensagens de jovens doutores chineses e indianos manifestando interesse em fazer estágio de pós-doutoramento no Brasil.
Países asiáticos como a Coreia, China, Índia e Cingapura procuram aproximar-se das instituições brasileiras e buscam nossos doutores bem como trabalhos em colaboração. Por isto, temos todos os motivos para nos orgulharmos dos doutores que estamos formando. A ampliação no número de universidades federais pelo Reuni e da atividade científica em várias instituições de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico cria uma demanda crescente que exige uma ampliação da nossa capacidade de formação de doutores.
Em áreas dinâmicas da ciência e tecnologia brasileira, como ocorre nas instituições em que trabalhamos, ou com as quais interagimos, praticamente todos os doutores contam com bolsas de pós-doutoramento ou estão sendo aprovados em concursos públicos.
O clássico anúncio "procura-se pós-doutores interessados em participar de um projeto de pesquisa" é crescente nos quadros de aviso de nossas instituições. Àqueles que têm levantado dúvidas sobre a qualidade dos alunos que as Universidades vêm formando em seus programas de graduação, gostaríamos de dizer que, a julgar pela nossa experiência, tal preocupação não procede.
Pelo contrário, podemos mesmo dizer que estamos formando discípulos que estão nos superando nos avanços científicos. E isto é ótimo, pois esta é a garantia de um futuro promissor para a ciência & tecnologia e inovação e para as universidades e institutos de pesquisa brasileiros. Para confirmar esta observação, sugerimos que sejam analisados os currículos das jovens doutoras recentemente anunciados como ganhadores do prêmio L'Oreal coordenado pela Academia Brasileira de Ciências. Vamos encontrar jovens doutoras com mais de 30 artigos publicados em revistas internacionais de grande impacto e com atividades de pesquisa expressivas.
Contrariamente ao que tem sido dito por alguns, nos concursos públicos das universidades e institutos de pesquisa de que participamos, temos encontrado enormes dificuldades na avaliação e classificação devido ao alto nível dos candidatos apresentados. Tudo isto nos motiva a continuar trabalhando no sentido de formar ainda mais recursos humanos de alto padrão, bem como aumentar o número de estudantes no ensino fundamental, médio e técnico de qualidade, para incrementar ainda mais o nível das universidades e da pesquisa brasileira.
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