Péssimo desempenho em ranking global indica que há no País espaço de sobra para empresas com algo novo a oferecer aos clientes
Carolina Dall'Olio
O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, porém o menos inovador. O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), relatório que mapeia o nível de empreendedorismo de 59 países ao analisar empresas com até 42 meses de vida, coloca o Brasil no último lugar do ranking de inovação.
De acordo com o GEM, menos de 10% dos novos negócios brasileiros trazem ao mercado um produto realmente original, que não seja ofertado pela concorrência - no Chile, por exemplo, o índice ultrapassa a marca de 50%. Os números do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) confirmam o diagnóstico: em 2010, o órgão registrou 28.543 pedidos de patentes, e só 124 deles partiram de negócios de pequeno porte.
Mas a boa notícia é que hoje o mercado brasileiro finalmente reúne as condições necessárias para o surgimento da inovação. Os dados acima, ao mesmo tempo em que ajudam a explicar a baixa competitividade das companhias brasileiras, atestam que existe muito espaço a ser ocupado por negócios que investirem em novos produtos e serviços.
O País também dispõe de recursos financeiros e tecnológicos para que boas ideias se materializem. "Os fundos de investimentos têm demonstrado grande interesse nas empresas inovadoras brasileiras, pelo enorme potencial de crescimento que elas apresentam", afirma Luiz Eugênio Figueiredo, vice-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap). E o governo, por sua vez, criou novos programas de apoio à inovação. Assim, quem decide apostar todas as fichas em uma boa ideia não costuma se arrepender.
Com um produto muito simples em mãos, o engenheiro Waldomiro José Fernandes montou, em 2008, a empresa Versax. Ele desenvolveu um dispositivo que deve ser encaixado entre a lâmpada e o soquete. A rosquinha de quatro centímetros de diâmetro garante que com um toque no inovação interruptor comum seja possível controlar a intensidade da luz, cuja luminosidade poderá variar de 5% a 100%.
A mágica está, justamente, dentro dessa rosquinha. Ela contém um software e funciona como um dímer - com a vantagem de nenhuma parede precisar ser quebrada para instalação. Com o produto, a Versax conquistou grandes clientes, como Tok & Stok e Center Castilho. "O meu trunfo foi ter algo diferente para apresentar aos varejistas", constata Fernandes.
Como a produção é quase artesanal, a Versax vendeu só 6 mil peças em um ano e meio, faturando cerca de R$ 100 mil. Mas para atingir a meta de 1 milhão de peças produzidas por ano, Fernandes decidiu terceirizar a fabricação e as vendas, mas não a tecnologia.
Ter um produto capaz de ser vendido em grande quantidade fez o químico Augusto Camargo atrair a atenção de um fundo de investimentos e ganhar um importante prêmio de tecnologia empreendedora, o Call to Innovation 2011. Dono da empresa Aatag, de Sorocaba, Camargo foi escolhido por criar um adesivo capaz de armazenar dados pessoais e facilitar a troca de informações entre empresas e clientes.
A ideia é que o consumidor carregue consigo o adesivo e que as lojas tenham um leitor de dados em suas dependências. Assim, bastará o cliente encostar o adesivo no leitor para transferir informações. E como o sistema usa uma tecnologia barata, chamada RFID, fica mais fácil sua popularização. "A ideia é digitalizar o mundo real."
Mas uma inovação é antes de tudo necessidade. "Todos os outros fatores de competitividade estão esgotados", diz Guilherme Ary Plonski, vice-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
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