26 de junho de 2011

Protestos caem na rede


26 de junho de 2011
Educação e Ciências | Estado de Minas | Política | MG

Jakckson Romanelli/EM/D.A press

Depois de uma mobilização no Facebook pelo direito de usar calça jeans, alunos do Santa Doroteia conseguiram ser ouvidos pela direção

Comunidades virtuais ganham importância ao ser transformadas em poderosa ferramenta de mobilização por uma boa causa. Elas contribuíram até mesmo para a queda de um ditador - Alice Maciel
Em outro canto do mundo, elas ajudaram a derrubar um ditador. Aqui são as principais responsáveis por manifestações de todas as ordens e grandezas. Nada de partidos, sindicatos ou diretórios de estudantes. O ativismo agora é direto, sem intermediários, com a ajuda apenas das redes sociais. A mobilização pode ser para protestar contra a permanência há décadas de um ditador no poder, caso recente da Grécia, para defender liberdade de expressão, respeito às mulheres e à diversidade sexual, a construção de estação do metrô em um bairro de classe alta. Também pode ser para exigir o afastamento de uma prefeita, caso de Natal (RN), onde um movimento na internet pede o afastamento de Micarla de Souza (PV), ou apenas para exigir abertura de diálogo com a direção de uma escola. Foi o que aconteceu na semana passada em Belo Horizonte, em um dos mais tradicionais colégios da capital mineira, que tem no rol de seus ex-aluno a presidente Dilma Rousseff.
Estudantes da escola Santa Dorotéia, antigo Colégio Sion, organizaram via Facebook um protesto contra a proibição da direção da escola de usar calça jeans, restrição imposta aos alunos que frequentam todas as séries, com exceção do terceiro ano do ensino médio. No dia combinado, cerca de 150 alunos apareceram de surpresa na escola com o uniforme proibido. Quando perceberam algo de estranho, os diretores foram para a porta da escola e só deixaram entrar quem estava com autorização dos pais. Os outros foram convocados para uma conversa no auditório da escola.
"Eles (a diretoria) estavam querendo entender o motivo daquilo. Primeiro acharam que estávamos fazendo graça com o terceiro ano. Depois perceberam que queríamos ser ouvidos. Foi a primeira vez que escola nos chamou para conversar e nos ouviu", contou um aluno, que preferiu não se identificar. Por várias vezes, mas de maneira isolada, os alunos tentaram discutir o assunto. Sem sucesso, criaram um perfil falso no Facebook, convocaram todos os alunos e conseguiram pelo menos ser recebidos. A direção prometeu para agosto uma resposta sobre a liberação da calça jeans.
Para a historiadora e blogueira Conceição Oliveira, conhecida no Twitter pelo perfil @mariafro, as "redes sociais virtuais ampliam o alcance de vozes descontentes". "Mas, se não fortalecemos a organização no mundo offline, se não ocupamos as ruas, não se muda muita coisa apenas xingando muito no Twitter. Precisamos ser até mais organizados e responsáveis pelo poder de disseminação que as redes têm". Segundo ela, a revolução no Egito, que culminou com a queda do ditador Osmir Hosni Mubarak, os acampados na Espanha, o churrasco da "gente diferenciada", as marchas da liberdade e das "vadias", o fora Micarla em Natal são exemplos de manifestações das quais os que aderem usam as redes sociais para marcar protestos, mobilizar outros descontentes, divulgar suas ações. "Por isso, uma das lutas da blogosfera progressista é pela universalização da rede, com banda larga de qualidade, acessível a todos e com liberdade." "A liberdade na internet dá poder aos cidadãos", resume.
Para Eduardo de Jesus, publicitário e doutor em mídias digitais, a internet e as redes sociais são ferramentas que colaboram para que as mobilizações sociais aconteçam, mas ele não acredita que sejam essenciais ou determinantes. "Não foi só por causa da internet que conseguiram derrubar a ditadura, por exemplo. Há vários outros fatores por trás dela. Primeiramente tem de existir o desejo das pessoas de ir às ruas, de querer articular. Mas não há dúvida de que as redes sociais dão um gás tremendo e facilitam muito a difusão da informação."
FORÇAS DIFERENTES O analista de sistemas Juninho Viotti, um dos articuladores da Marcha da Liberdade em Belo Horizonte, afirma que sem as redes sociais não seria possível aglutinar tantas forças diferentes em torno de um mesmo objetivo, como tem acontecido nos últimos tempos. Ele conta que as principais ferramentas usadas na articulação do movimento foram o Twitter e o Facebook. Eles tiveram apenas 20 dias para organizar o movimento e conseguiram levar centenas de pessoas para as ruas em um objetivo comum. "A mobilização começou em 28 de maio, quando aconteceu a marcha da liberdade em São Paulo, e eles convocaram a marcha nacional. Começou na rede e depois foi para as ruas", conta. Para ele, as redes sociais hoje em dia abrem um espaço importante de debate, principalmente o Facebook e o YouTube. "O YouTube serve mais como uma ferramenta de massificação do debate. É onde as pessoas têm maior visibilidade porque elas podem mostrar o rosto", justificou.
Saiba mais
Na internet as redes sociais são comunidades on-line onde seus integrantes se relacionam, trocam mensagens, informações, postam vídeos, artigos, links para outras páginas na web.
Atualmente, as principais redes da internet são o Twitter, uma espécie de microblog onde o internauta pode escrever textos de até 140 caracteres e também publicar links de endereços e fotos, e o Facebook, que permite a postagem de fotos, vídeos em álbuns e também a troca de mensagem com todos que fazem parte da sua rede de amigos.
O Brasil tem hoje 43,2 milhões de usuários da internet, segundo dados divulgados em maio por uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Este número é 13,9% maior em relação à estatística de março do ano passado

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