23 de junho de 2011
O Estado de S. Paulo | Economia | BR
Estudo alerta para consequências de políticas de austeridades impostas pelos governos por causa da crise e prevê retorno da recessão globalJamil Chade - O Estado de S.Paulo
A Organização das Nações Unidas alerta que políticas de austeridade, como as que tomam conta da periferia da Europa, estão levando o mundo a uma crise social e ameaçam jogar a economia mundial de volta a uma recessão.
O recado é parte do estudo mais completo já publicado pela entidade desde o início da recessão, em 2008, sobre a repercussão social da crise. A constatação é de que os pacotes de austeridade estão cortando gastos sociais, com impacto na educação, saúde, alimentação e nível de renda de milhões de pessoas.
Nas últimas semanas, as ruas de Atenas têm visto o mal-estar explícito ante uma crise que ganha dimensões dramáticas. Na Espanha, milhares de pessoas saem às praças. Em outros países, pelo menos quatro governos já deixaram o poder por causa da recessão e das respostas à crise.
"As medidas de austeridade adotadas por certos países, como Grécia e Espanha, diante de um excessivo endividamento público não ameaçam apenas o emprego no setor público e os gastos sociais, mas também tornam a recuperação econômica mais frágil e incerta", alerta o estudo.
O fenômeno não está limitado à Grécia e à Espanha. "Vários países em desenvolvimento, especialmente os que se beneficiam de programas do FMI, também sofrem pressões para reduzir seus gastos públicos e adotar medidas de austeridade."
Segundo a ONU, a realidade é que a crise financeira se transformou em crise social. Já em 2009, 95 países registraram queda na renda média dos cidadãos. O desemprego subiu de forma recorde, passando de 178 milhões em 2007 para 205 milhões em 2009. O problema é que, se os bancos voltaram a lucrar e a crise deu sinais de ter sido superada, seu impacto social persiste.
Países como Espanha, Letônia, Estônia e Lituânia continuam com taxas de desemprego acima de 18%. No total, os países ricos perderam 14 milhões de empregos e 97% dos países desenvolvidos ainda têm desemprego superior a 2008. 78% dos emergentes também apresentam essa realidade.
O cenário, segundo a ONU, não é dos mais animadores. Para 2011 e 2012, as estimativas são de menor expansão do PIB mundial, que foi de 3,6% em 2010. Para a ONU, a expansão será de apenas 3,1% este ano e 3,5% em 2012. Mas, se os riscos se transformarem em novos obstáculos, como no caso de um calote da Grécia, a expansão da economia mundial poderia ficar em apenas 2%, com alguns países ricos voltando para a recessão.
Um dos resultados da política de austeridade tem sido ainda a queda de salários, que traz consigo a queda no consumo e, portanto, uma desaceleração da recuperação. Em 2007, os salários no mundo tiveram alta média de 2,7%. Em 2009, essa taxa caiu para 1,6%. Sem incluir a China na conta, o resultado de 2010 seria de estagnação. Na Europa, os salários foram reduzidos em 0,1%. Nos Estados Unidos, a renda média de uma família americana caiu 20% entre 2008 e 2010, a maior redução desde a Segunda Guerra Mundial. Já a concentração de renda passou a ser equivalente às taxas dos anos 30.
Orçamentos. Para o número 2 da ONU, Jomo Sundaram, há uma razão clara para a persistência da crise social: os cortes nos orçamentos públicos, estipulados como meta em praticamente todos os continentes, depois que governo gastou trilhões para resgatar suas economias.
"A pressão cada vez maior por medidas de austeridade está colocando em risco a proteção social, saúde pública e educação", alerta o estudo. "A redução de gastos sociais já está ocorrendo em muitos países", diz a ONU.
A redução dos gastos estatais não se limita aos países ricos. Segundo um estudo da Oxfam, 56 países pobres registraram recuo nos orçamentos entre 2008 e 2010. A arrecadação desses governos havia sofrido queda de 48% no ano passado, depois de já ter recuado 60% em 2009. Nos países do Oriente Médio, a arrecadação caiu 5% do PIB. Na Ásia, chegou a 4%, ante 2% na Europa.
Uma das primeiras vítimas é a educação. Segundo a Unesco, a África deve cortar gastos de US$ 30 bilhões até 2013 que estavam reservados para as escolas. Nos países ricos, o setor também sofre. Nos Estados Unidos, universidades viram suas fontes de renda cair 23% desde 2008. A estimativa da Unesco é de que, até 2015, 350 mil estudantes não terminarão o ensino básico.
Na saúde, a ONU alerta que o impacto real da crise não se saberá até 2013, quando os dados sobre 2010 começarão a ser publicados. Mas algumas estimativas já apontam que mais 1,2 milhão de crianças podem morrer por causa do corte de orçamentos para a saúde entre 2009 e 2015.
Fome. Outro alerta é para a fome no mundo. Mais 63 milhões de pessoas passaram a ser consideradas malnutridas, desde a eclosão da crise em 2008, por causa do corte de gastos de famílias com alimentos. Para agravar o quadro, tradicionais doadores cortaram suas ajudas ao desenvolvimento.
Nesse cenário, a meta da ONU de reduzir a pobreza mundial pela metade em relação a 1990 não será atingida até 2015. Na realidade, uma recuperação lenta da economia mundial fará com que 220 milhões de pessoas se somem ao exército de miseráveis no planeta até 2020.
> Pobres mais pobres
Na África, o desemprego não caiu desde 2010 e as 84 milhões de pessoas que foram para baixo da linha da pobreza por causa da recessão até agora não conseguiram ser resgatadas.
A Organização das Nações Unidas alerta que políticas de austeridade, como as que tomam conta da periferia da Europa, estão levando o mundo a uma crise social e ameaçam jogar a economia mundial de volta a uma recessão.
O recado é parte do estudo mais completo já publicado pela entidade desde o início da recessão, em 2008, sobre a repercussão social da crise. A constatação é de que os pacotes de austeridade estão cortando gastos sociais, com impacto na educação, saúde, alimentação e nível de renda de milhões de pessoas.
Nas últimas semanas, as ruas de Atenas têm visto o mal-estar explícito ante uma crise que ganha dimensões dramáticas. Na Espanha, milhares de pessoas saem às praças. Em outros países, pelo menos quatro governos já deixaram o poder por causa da recessão e das respostas à crise.
"As medidas de austeridade adotadas por certos países, como Grécia e Espanha, diante de um excessivo endividamento público não ameaçam apenas o emprego no setor público e os gastos sociais, mas também tornam a recuperação econômica mais frágil e incerta", alerta o estudo.
O fenômeno não está limitado à Grécia e à Espanha. "Vários países em desenvolvimento, especialmente os que se beneficiam de programas do FMI, também sofrem pressões para reduzir seus gastos públicos e adotar medidas de austeridade."
Segundo a ONU, a realidade é que a crise financeira se transformou em crise social. Já em 2009, 95 países registraram queda na renda média dos cidadãos. O desemprego subiu de forma recorde, passando de 178 milhões em 2007 para 205 milhões em 2009. O problema é que, se os bancos voltaram a lucrar e a crise deu sinais de ter sido superada, seu impacto social persiste.
Países como Espanha, Letônia, Estônia e Lituânia continuam com taxas de desemprego acima de 18%. No total, os países ricos perderam 14 milhões de empregos e 97% dos países desenvolvidos ainda têm desemprego superior a 2008. 78% dos emergentes também apresentam essa realidade.
O cenário, segundo a ONU, não é dos mais animadores. Para 2011 e 2012, as estimativas são de menor expansão do PIB mundial, que foi de 3,6% em 2010. Para a ONU, a expansão será de apenas 3,1% este ano e 3,5% em 2012. Mas, se os riscos se transformarem em novos obstáculos, como no caso de um calote da Grécia, a expansão da economia mundial poderia ficar em apenas 2%, com alguns países ricos voltando para a recessão.
Um dos resultados da política de austeridade tem sido ainda a queda de salários, que traz consigo a queda no consumo e, portanto, uma desaceleração da recuperação. Em 2007, os salários no mundo tiveram alta média de 2,7%. Em 2009, essa taxa caiu para 1,6%. Sem incluir a China na conta, o resultado de 2010 seria de estagnação. Na Europa, os salários foram reduzidos em 0,1%. Nos Estados Unidos, a renda média de uma família americana caiu 20% entre 2008 e 2010, a maior redução desde a Segunda Guerra Mundial. Já a concentração de renda passou a ser equivalente às taxas dos anos 30.
Orçamentos. Para o número 2 da ONU, Jomo Sundaram, há uma razão clara para a persistência da crise social: os cortes nos orçamentos públicos, estipulados como meta em praticamente todos os continentes, depois que governo gastou trilhões para resgatar suas economias.
"A pressão cada vez maior por medidas de austeridade está colocando em risco a proteção social, saúde pública e educação", alerta o estudo. "A redução de gastos sociais já está ocorrendo em muitos países", diz a ONU.
A redução dos gastos estatais não se limita aos países ricos. Segundo um estudo da Oxfam, 56 países pobres registraram recuo nos orçamentos entre 2008 e 2010. A arrecadação desses governos havia sofrido queda de 48% no ano passado, depois de já ter recuado 60% em 2009. Nos países do Oriente Médio, a arrecadação caiu 5% do PIB. Na Ásia, chegou a 4%, ante 2% na Europa.
Uma das primeiras vítimas é a educação. Segundo a Unesco, a África deve cortar gastos de US$ 30 bilhões até 2013 que estavam reservados para as escolas. Nos países ricos, o setor também sofre. Nos Estados Unidos, universidades viram suas fontes de renda cair 23% desde 2008. A estimativa da Unesco é de que, até 2015, 350 mil estudantes não terminarão o ensino básico.
Na saúde, a ONU alerta que o impacto real da crise não se saberá até 2013, quando os dados sobre 2010 começarão a ser publicados. Mas algumas estimativas já apontam que mais 1,2 milhão de crianças podem morrer por causa do corte de orçamentos para a saúde entre 2009 e 2015.
Fome. Outro alerta é para a fome no mundo. Mais 63 milhões de pessoas passaram a ser consideradas malnutridas, desde a eclosão da crise em 2008, por causa do corte de gastos de famílias com alimentos. Para agravar o quadro, tradicionais doadores cortaram suas ajudas ao desenvolvimento.
Nesse cenário, a meta da ONU de reduzir a pobreza mundial pela metade em relação a 1990 não será atingida até 2015. Na realidade, uma recuperação lenta da economia mundial fará com que 220 milhões de pessoas se somem ao exército de miseráveis no planeta até 2020.
> Pobres mais pobres
Na África, o desemprego não caiu desde 2010 e as 84 milhões de pessoas que foram para baixo da linha da pobreza por causa da recessão até agora não conseguiram ser resgatadas.
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