23 de junho de 2011
Gazeta Digital | | MT
Apesar de toda a euforia em torno do desempenho da economia brasileira, as estradas do país continuam em situação de miséria. Segundo dados do Ministério da Saúde, morrem todos os anos, em média, 38 mil pessoas nas rodovias brasileiras. Boa parte dessa mortandade é provocada por má conservação das estradas, falta de fiscalização, infraestrutura precária, desrespeitos às leis de trânsito, entre outros. O resultado é uma equação devastadora. Hoje o Brasil tem uma proporção de 1 morto para 690 veículos, enquanto na França é de 1 para 3 mil, Suíça 1 para 3.600, Alemanha 1 para 4.200, Estados Unidos 1 para 5.300, Japão 1 para 5.600 e Suécia 1 para 6.900. "Para mudar este quadro são necessários recursos e empenho político. Só assim o Brasil vai encontrar progresso na área de trânsito", explica o especialista em segurança no trânsito e membro do Programa Volvo de Segurança no Trânsito, PVST, J. Pedro Corrêa.No Brasil, o perigo das estradas varia de acordo com cada Estado. Ao sair do Rio de Janeiro para o Espírito Santo, por exemplo, a probabilidade de se morrer em um acidente rodoviário triplica, segundo estatísticas do Mapa da Violência 2011, elaborado pelo Instituto Sangari e publicado pelo Ministério da Justiça. As estradas mais perigosas do Brasil estão no Tocantins e Mato Grosso, com uma média de 10,7 e 10,1 mortes por 100 mil habitantes, um número crítico. Em seguida vêm Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. "Temos um conceito errado de rodovia. A boa não é a bem asfaltada, mas a que oferece área de fuga, bons acostamentos, sinalização adequada, planejamento etc", explica a Inspetora Marisa Dreys, relações públicas da Polícia Rodoviária Federal. Estradas com melhor infraestrutura e conservação apresentam números melhores. Em São Paulo, por exemplo, acontece um óbito para cada 21 acidentes em vias federais, enquanto esta média é de 1 para 16 em Minas Gerais.
Grande parte dos acidentes fatais ocorre pelas más condições e falta de infraestrutura das estradas. É comum trafegar em vias esburacadas e de mão dupla, as mais perigosas. As mudanças, apesar de urgentes, acontecem a passos lentos. Em 2008, para se ter uma ideia, o governo usou apenas 15,5% dos R$ 3,3 bilhões destinados a manter e recuperar as pistas federais, segundo informou a Confederação Nacional de Transporte (CNT). O resultado da falta de investimentos reflete nas estatísticas. Enquanto a frota brasileira ganhou 24 milhões de carros entre 2001 e 2009, o que significa um aumento de 76%, as mortes nas estradas brasileiras subiram 47% nos últimos sete anos, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal. "Tão importante quanto construir novas estradas é fazer a manutenção delas", ensina o diretor Geral de Trânsito da Espanha, Pere Navarro Olivella, que também é responsável por diminuir os acidentes do país europeu em 57% nos últimos 7 anos.
O motorista também tem parcela de culpa nesta média elevada de mortes no trânsito. "Uma das maiores razões dos acidentes nas estradas ainda é o excesso de velocidade", analisa o analista de segurança viária do Cesvi Brasil, André Horta. A imprudência dos motoristas que não respeitam os limites de velocidade e as falhas da fiscalização deixam as estradas ainda mais perigosas. "Andar mais devagar é uma meta para diminuir não só o número, mas também a gravidade dos acidentes", alerta a consultora do Programa Volvo de Segurança do Trânsito, Nereide Tolentino. "Estudos mostram que se o trânsito passa de 100 km/h para 101 km/h, as mortes aumentam em até 5%. Por isso é importante o controle da polícia em relação à velocidade", complementa o consultor em Segurança no Trânsito do Banco Mundial, Eric Howard.
Uma das soluções para mudar este triste panorama das estradas brasileiras pode ser a simples aplicação das leis. Bons exemplos não faltam. Em vigor há quase 3 anos, a Lei Seca, que restringe o uso de bebida alcoólica por parte dos motoristas, hoje perdeu força na maioria dos Estados pela falta de fiscalização. Nesse cenário, o Rio de Janeiro é uma exceção, com fiscalizações diárias em saídas de pontos de aglomeração. O empenho dos cariocas aparece nos números. Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, a operação Lei Seca reduziu em 32% as mortes no Estado, ao todo foram 679 óbitos no último ano. "Esta ação é um resgate da civilidade do trânsito", destaca o deputado federal Hugo Leal, autor da Lei Seca. "É necessário manter a fiscalização e a punição para que as pessoas acreditem na lei", acrescenta a consultora do Programa Volvo de Segurança no Trânsito, Nereide Tolentino.
Outro ponto crucial, e nem sempre levado em consideração, é o carro do brasileiro. Além de algumas das estradas mais seguras do mundo, a Europa tem carros mais bem equipados no quesito segurança. Por lá, quase 100% dos veículos saem de fábrica com ABS, airbags frontais e laterais e controle eletrônico de estabilidade. Já no Brasil, equipamentos de segurança são tratados como opcionais de luxo. Os motoristas têm de escolher e pagar por eles. Com isso, estimativas do Denatran apontam que apenas 4% dos 49 milhões de carros do Brasil tenham airbag e só 15% contem com ABS. Só em 2009 a Câmara dos Deputados aprovou a lei que obriga todos os modelos nacionais a terem bolsas frontais, mas apenas a partir de 2014. "As fabricantes de veículos também têm sua quota de responsabilidade", alerta Eric Howard, do Banco Mundial.
Mudar o cenário catastrófico de milhares de mortes anuais das ruas e estradas brasileiras é algo que demanda tempo. Mas a melhoria da infraestrutura das vias brasileiras e a construção de uma cultura de obediência às leis deve começar desde já. "Sem uma cultura de trânsito será impossível mudar esta realidade", conclui representante do Programa Volvo de Segurança no Trânsito, J. Pedro Corrêa.
Grande parte dos acidentes fatais ocorre pelas más condições e falta de infraestrutura das estradas. É comum trafegar em vias esburacadas e de mão dupla, as mais perigosas. As mudanças, apesar de urgentes, acontecem a passos lentos. Em 2008, para se ter uma ideia, o governo usou apenas 15,5% dos R$ 3,3 bilhões destinados a manter e recuperar as pistas federais, segundo informou a Confederação Nacional de Transporte (CNT). O resultado da falta de investimentos reflete nas estatísticas. Enquanto a frota brasileira ganhou 24 milhões de carros entre 2001 e 2009, o que significa um aumento de 76%, as mortes nas estradas brasileiras subiram 47% nos últimos sete anos, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal. "Tão importante quanto construir novas estradas é fazer a manutenção delas", ensina o diretor Geral de Trânsito da Espanha, Pere Navarro Olivella, que também é responsável por diminuir os acidentes do país europeu em 57% nos últimos 7 anos.
O motorista também tem parcela de culpa nesta média elevada de mortes no trânsito. "Uma das maiores razões dos acidentes nas estradas ainda é o excesso de velocidade", analisa o analista de segurança viária do Cesvi Brasil, André Horta. A imprudência dos motoristas que não respeitam os limites de velocidade e as falhas da fiscalização deixam as estradas ainda mais perigosas. "Andar mais devagar é uma meta para diminuir não só o número, mas também a gravidade dos acidentes", alerta a consultora do Programa Volvo de Segurança do Trânsito, Nereide Tolentino. "Estudos mostram que se o trânsito passa de 100 km/h para 101 km/h, as mortes aumentam em até 5%. Por isso é importante o controle da polícia em relação à velocidade", complementa o consultor em Segurança no Trânsito do Banco Mundial, Eric Howard.
Uma das soluções para mudar este triste panorama das estradas brasileiras pode ser a simples aplicação das leis. Bons exemplos não faltam. Em vigor há quase 3 anos, a Lei Seca, que restringe o uso de bebida alcoólica por parte dos motoristas, hoje perdeu força na maioria dos Estados pela falta de fiscalização. Nesse cenário, o Rio de Janeiro é uma exceção, com fiscalizações diárias em saídas de pontos de aglomeração. O empenho dos cariocas aparece nos números. Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, a operação Lei Seca reduziu em 32% as mortes no Estado, ao todo foram 679 óbitos no último ano. "Esta ação é um resgate da civilidade do trânsito", destaca o deputado federal Hugo Leal, autor da Lei Seca. "É necessário manter a fiscalização e a punição para que as pessoas acreditem na lei", acrescenta a consultora do Programa Volvo de Segurança no Trânsito, Nereide Tolentino.
Outro ponto crucial, e nem sempre levado em consideração, é o carro do brasileiro. Além de algumas das estradas mais seguras do mundo, a Europa tem carros mais bem equipados no quesito segurança. Por lá, quase 100% dos veículos saem de fábrica com ABS, airbags frontais e laterais e controle eletrônico de estabilidade. Já no Brasil, equipamentos de segurança são tratados como opcionais de luxo. Os motoristas têm de escolher e pagar por eles. Com isso, estimativas do Denatran apontam que apenas 4% dos 49 milhões de carros do Brasil tenham airbag e só 15% contem com ABS. Só em 2009 a Câmara dos Deputados aprovou a lei que obriga todos os modelos nacionais a terem bolsas frontais, mas apenas a partir de 2014. "As fabricantes de veículos também têm sua quota de responsabilidade", alerta Eric Howard, do Banco Mundial.
Mudar o cenário catastrófico de milhares de mortes anuais das ruas e estradas brasileiras é algo que demanda tempo. Mas a melhoria da infraestrutura das vias brasileiras e a construção de uma cultura de obediência às leis deve começar desde já. "Sem uma cultura de trânsito será impossível mudar esta realidade", conclui representante do Programa Volvo de Segurança no Trânsito, J. Pedro Corrêa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário