25 de março de 2012

Ataques põem identidade francesa na encruzilhada




PARIS — Sete vítimas enterradas, um assassino morto e uma pergunta-chave: nesta França em crise de identidade, estagnada economicamente e palco da radicalização tanto de muçulmanos quanto de cristãos de direita, quem vai comandar o país nos próximos cinco anos e em que direção?A quatro semanas da eleição presidencial, a tragédia de Toulouse meteu o dedo na ferida que muitos queriam ocultar: o crescente fosso na sociedade francesa. E deixou o país na mesma encruzilhada que a Noruega, depois que um cristão fanático e nacionalista, Anders Behring Breivik, matou, sozinho, 77 compatriotas em Oslo, em julho, em protesto contra uma imaginária "islamização" da sociedade local.
Agora, seis meses depois, a versão muçulmana de Behring — Mohammed Merah, um francês de 23 anos, filho de imigrantes argelinos — partiu na sua guerra santa contra os "infiéis" e um Ocidente cristão que ele julgou hostil, matando sete pessoas, entre elas três crianças judias. Como no caso do norueguês, seu extremismo brotou no seu próprio país — a democrática França. Ele era um produto nacional.
Resta agora saber que visão vai prevalecer depois de Toulouse, quando um novo presidente — ou o atual, Nicolas Sarkozy, em caso de reeleição — assumir o país, em maio: a da repressão ou de uma revisão do modelo francês, para a melhor integração de imigrantes que, no caso da França, são em sua maioria árabes e muçulmanos? Hasni Abidi, cientista político das universidades de Paris I Panthéon-Sorbonne e de Genebra, onde dirige o Centro de Estudos do Mundo Árabe e Mediterrâneo, não tem ilusão.
— Infelizmente, a classe política francesa se recusa a encarar as coisas de frente: não se trata apenas de um problema de terrorismo, de violência ou de radicalismo. Mas, sim, do fracasso do modelo francês de integrar seus próprios filhos — afirma.
Sarkozy explora imagem de xerife
Para Abidi, a trajetória de Mohammed Merah na França não desculpa a violência de seus atos, mas revela um "mal-estar" de identidade:
— Este jovem não se encontrava na França. Ele, como outros, ressentia uma certa injustiça. Por que se chegou a isso? Evidentemente, as chances (na sociedade francesa) não são iguais para todo mundo. Mas a classe política não quer ver. Para ela, o terrorismo é uma explicação mais fácil.
Para o cientista político Bruno Cautrès, do Centro de Estudos da Vida Política Francesa, os atentados tiveram um efeito: a campanha virou para um lado que beneficia Sarkozy. Como ministro do Interior, ele havia assegurado sua popularidade como o "xerife da França" — rápido na reação e na repressão. Seu maior feito: reduziu o número de mortos em acidentes de carro, com punição.
Cautrès atribui o súbito aumento de Sarkozy nas últimas pesquisas a isso: o público redescobriu, no drama de Toulouse, o lado do presidente de que eles gostam mais — o do xerife que reage rápido.
— Há polêmicas (sobre a investigação e a operação que resultou na morte de Merah). Mas o que o público vai reter é que o criminoso foi rapidamente encontrado. Isso é algo que só pode reforçar Sarkozy — conclui.
Sondagens apontam para Sarkozy, agora, ultrapassando o socialista François Hollande, até então o favorito. Mas a batalha para Sarkozy não está vencida, alerta Cautrès: as mesmas pesquisas apontam Hollande vitorioso no segundo turno. Por um motivo, explica o especialista: o socialista deverá obter todos os votos dos outros candidatos da esquerda. Já Sarkozy dificilmente conseguirá atrair todos os eleitores de Marine Le Pen ou do centrista François Bayrou. Por quê?
— Porque em 2007, muitos eleitores da Frente Nacional (extrema-direita) votaram em Sarkozy já no primeiro turno. Eles hoje têm o sentimento de que foram traídos, e que Sarkozy não respeitou seu compromisso de baixar o número de imigrantes ou lutar contra outros problemas que preocupam a Frente, como (a redução do) poder de compra — explica Cautrès.
Cautrès e Abidi concordam que o verdadeiro problema da França não é propriamente a eleição do próximo presidente da República. Mas, sim, o que ele vai fazer quando eleito. Cautrès descreve uma França numa "gigantesca crise de identidade".
— Globalização, integração europeia, tudo isso trabalha em profundidade a pergunta: o que é ser francês hoje? Qual o lugar do modelo republicano francês?
Abidi teme que os atentados alimentem ainda mais a estigmatização da população de origem árabe e muçulmana da França.
— Infelizmente, com o que aconteceu, a atenção volta-se para a presença dos muçulmanos, o Islã, e a distorção que sempre foi feita ressurgiu. De repente, os muçulmanos viraram a principal questão da última etapa da campanha — observa Abidi.
Do seu escritório em Paris, a jornalista Vibeke Rachine, do maior jornal da Noruega, o "Aftenpost", compara os atentados de Oslo e Toulouse. Uma diferença, para ela, foi a reação. Enquanto na Noruega a classe política se uniu para defender o modelo, e respondeu ao terror pregando mais democracia, mais abertura e mais tolerância, na França a resposta foi a defesa de mais segurança e medidas antiterrorismo.

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