18 de julho de 2012

Aids no Brasil, Pedro Chequer


Coordenador do programa de Aids da ONU critica ações do governo

BRASÍLIA - O coordenador do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) no Brasil, Pedro Chequer, criticou nesta quarta-feira o recuo do governo brasileiro, que em fevereiro vetou uma peça publicitária voltada para o público homossexual. Por outro lado, mediu as palavras, dizendo que confia na equipe técnica do Ministério da Saúde e que entende que essa situação é passageira. As declarações foram dadas durante coletiva após a divulgação dos números mundiais da Aids em 2011, em Brasília, da qual também participou o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco.
O comercial que estava previsto para ser veiculado no Carnaval deste ano trazia imagens de um jovem casal gay trocando carícias numa boate. No final da cena, aparecia uma fada com um preservativo e o slogan de que sem camisinha não pode rolar. O vídeo foi substituído por outro mais burocrático. Nesta quarta, antes do início da coletiva, o filme vetado - junto com outros comerciais que tratam da prevenção à Aids - foi exibido aos jornalistas.
- Eu afirmo sem margem de dúvida e fico tranquilo em afirmar isto porque fui diretor do Programa de Aids antes duas vezes: (o comercial vetado) foi a melhor campanha do ministério já produziu voltado para a população mais vulnerável. Direta, objetiva, mobilizadora, alegre. Nós não podemos ter campanhas mórbidas. Ela foi substituída por uma campanha inócua que não mobiliza e que tem erros técnicos inclusive. E sem a participação da área técnica especializada no Ministério da Saúde - afirmou Chequer, acrescentando em seguida:
- Então eu diria que o Brasil corre risco de um retrocesso nessa área de mobilização social em campanhas. Porque a medida que procura atender demandas de alguns segmentos sociais, que efetivamente propugnam que não utilize a fundamentação da ciência e da tecnologia para a veiculação das campanhas e construção das mensagens, o Brasil corre risco de retrocesso.
Por outro lado, ele demonstrou confiança no Ministério da Saúde para reverter isso.
- Nós entendemos isso como uma situação passageira, que será superada e o Brasil retomará o seu entendimento de construir uma agenda de campanhas e construção de educação na sexualidade mais adequada e científico.
Chequer também também criticou o veto do governo brasileiro ao kit com material pedagógico que seria distribuído nas escolas para combater a homofobia. O material recebeu de seus opositores o apelido de kit gay e, pressionada, a presidente Dilma Rousseff cancelou sua distribuição.
- Nós sofremos um revés importante no ano passado. O kit que visava discutir na escola a questão da homo-lesbo-transfobia (sic), de discutir a questão da igualdade, do respeito à diferença, apoiado, validado pedagogicamente pelo Unaids e pela Unesco, ele foi suspenso. E isso é lamentável , porque é na escola que repousa a esperança e a expectativa de construção de uma nova agenda com vista à prevenção.
O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, minimizou esses vetos.
- O que eu posso afirmar é que a política brasileira continua caminhando no mesmo sentido. É uma política que respeita os direitos humanos, que está em todo o local, discutindo a homofobia. Participamos intensamente. Este país é um país federativo e com três poderes. Muitos dos poderes que estão discutindo (a questão) não tem o mesmo alvo muitas vezes. Algumas vezes pode ser que tenha acidente de percurso, que pare um pouquinho, mas o nosso caminho está marcado.
Durante a coletiva, tanto Chequer quanto Greco criticaram o conservadorismo religioso no trato às questões referentes à Aids.
O Globo,18 de julho,2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário