Folha de S.Paulo,27/7/2012
Com a greve iniciada pelos professores -depois estendida a outros servidores-, o Brasil debate o futuro. A ausência do governo, que parece mais interessado em evitar prejuízos eleitorais e administrar as competições em sua "base", torna os problemas ainda mais graves e urgentes. E o que deveria ser a principal solução é o principal problema: educação.
Nesta semana, em uma apresentação para estudantes selecionados ao Prêmio Jovens Inspiradores, fiquei impressionada com os dados apresentados por Viviane Senna: metade das crianças que ingressam no ensino fundamental em escolas públicas não chega ao ensino médio. Segundo ela, 20% das crianças desistem em três anos, outros 20% em quatro anos. É um "extermínio do futuro", que atinge sobretudo as crianças mais pobres.
O motivo é estrutural: o sistema escolar, confuso e mal administrado, também mal ministra um ensino de baixa qualidade, que empurra as crianças precocemente para a porta de saída. Lá fora estão outros sistemas, mais eficientes no alcance de seus trágicos objetivos, como o tráfico e a violência.
Sacraliza-se a "aceleração do crescimento", sonha-se com negócios da China, mas joga-se a educação na sarjeta. É como perseguir miragens no deserto sem água no cantil.
Sem o justo atendimento das demandas por valorização econômica, técnica e simbólica daqueles que têm a função de atender crianças e jovens em suas necessidades de ensino, não há como construir a necessária igualdade de oportunidades, imprescindível para a melhoria do tecido sociocultural do país.
O debate prossegue na sociedade, que se mobiliza para exigir seus direitos e procurar alternativas. Há experiências interessantes em educação à distância, há projetos sociais e culturais apontando novos caminhos, além do trabalho das fundações e organizações civis que tentam suprir carências do sistema oficial, talvez na esperança de fazê-lo pegar nem que seja "no tranco".
Não basta. O sistema é deficitário, melhora lentamente e se deteriora com rapidez. Será necessário criar um compromisso mais profundo do que as decisões políticas ou a falta delas. Um novo consenso na cultura, um pacto pela educação. Uma mudança tão completa na mentalidade que seja capaz de produzir soluções efetivas, que possibilite agregar aos louváveis resultados de acessibilidade escolar a imprescindível qualidade, sem a qual o futuro de nossas crianças e jovens continuará ameaçado.
Continuemos o debate. E fiquemos atentos, quem sabe alguém toca no assunto na campanha eleitoral, quando esquecer -por alguns momentos- do fígado do adversário. E que os eleitos continuem lembrando o que falaram sobre educação em seus discursos de campanha.
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