30 de julho de 2012

‘Trabalho formal e educação para o novo salto social’, defende Marcelo Neri


BRASÍLIA - Autor dos livros “A nova classe média” e “Microcrédito: o mistério nordestino e o grameen brasileiro”, ambos citados pela presidente Dilma Rousseff como referência, o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que o Brasil poderá celebrar seus ganhos nos 200 anos de Independência “se, e somente se, a sociedade civil estiver comemorando também o cumprimento das metas de educação”.
A ascensão de 40 milhões à classe média é um ativo para os próximos 20 anos?
Em 2014, já serão 118 milhões, ou 60% da população. Foi uma revolução provocada por questões demográficas, estabilidade da moeda e formalização do trabalho. Os bônus demográfico e educacional são a chave para o Brasil dos próximos 20 anos e, juntos, podem turbinar o crescimento do país. O primeiro, que são as famílias com menos filhos e mais educação, renderá um adicional de 0,5 ponto percentual ao PIB por ano ao país até 2024. O segundo, que melhora a qualificação e a produtividade, de 2,2 ponto percentual ao ano.
O que representará essa nova classe média em duas décadas?
Já é dominante no sentido político e poderá decidir sozinha uma eleição. Para o mercado consumidor, tem poder de compra maior do que das classes A e B juntas. Mas o Brasil poderá celebrar seus ganhos nos 200 anos de Independência se, e somente se, a sociedade civil estiver comemorando também o cumprimento das metas de educação. Deu um salto na época do milagre, depois no Real e o dos últimos anos, desde o fim de 2003. O grande símbolo da nova classe média é o trabalho formal, com carteira assinada. Isso e educação são fundamentais para o novo salto, mais importantes do que crédito para aumentar consumo e políticas sociais.
Por quê?
Se fosse só crédito e política social, teria efeito passageiro. Estamos falando de mudanças estruturais. A grande agenda agora é como aumentar o número de carteiras assinadas e garantir educação de qualidade.
Qual o principal adversário do Brasil?
O otimismo excessivo. O brasileiro dá uma nota maior para ele próprio no futuro do que para o país. É preciso mudar a cultura individualista, ser mais formiguinha e menos cigarra. Questões coletivas têm que entrar na agenda, como saneamento, corrupção e criminalidade.

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