29 de julho de 2012

Educação poderá ser o Plano Real do futuro


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RIO - Se há 20 anos a palavra de ordem para o futuro do país era a estabilização financeira, que veio com o Plano Real, o que ocorrerá nas próximas duas décadas no Brasil poderá ser determinado pela educação. Economistas, autoridades e pesquisadores acreditam que o tema será a chave para o país ter um salto de qualidade social e econômica, assegurando de vez um papel relevante no cenário mundial e garantindo uma sociedade mais justa.
— Acredito que 30% da queda do desemprego e 60% da redução da informalidade da economia nos últimos anos se justificam com o avanço da educação. Nas últimas duas décadas o país avançou na universalização do ensino fundamental, agora os desafios são melhorar a qualidade desse ensino e universalizar o ensino médio — afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), que acredita que, com os avanços do setor, outros, econômicos e sociais, virão a reboque.
Erik Camarano, presidente do Movimento Brasil Competitivo, disse que os desafios do futuro para o Brasil estão concentrados em quatro áreas: Educação, Infraestrutura, Tributária e Trabalhista. Para ele, o país ainda pode mudar sua realidade em 20 ou 30 anos, desde que decida fazer isso.
— Estamos com uma das nossas melhores oportunidades históricas, com uma situação demográfica que nos dá condições muito boas. Claro que acreditamos que as mudanças poderiam ser mais rápidas e mais profundas, mas pelo menos nos alegramos em saber que o debate sobre o longo prazo no Brasil voltou a entrar na agenda da sociedade. Basta agora os governantes assumirem isso, o que seria uma forma histórica de reaproximação dos políticos com a população — diz Camarano, que defende que as eleições sejam coincidentes, para evitar que a nação pare a cada dois anos.
A educação mais universal e de qualidade leva à inovação e poderá melhorar toda a sociedade. Na agricultura, técnicas mais modernas serão fundamentais para o grande salto de produção que é esperado pela Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ela estima que a produção de grãos saltará dos atuais 161 milhões de toneladas para 400 milhões de toneladas em 2020:
— A evolução virá com boas práticas ecológicas, com muita inovação e ganhos de produtividade — diz Rosemeire Cristina dos Santos, da CNA.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também espera uma revolução com uma nova tecnologia, agroecológica, para mudar a lógica do setor — hoje baseado na exportação —, voltando-se para a fixação do homem na terra. Diego Moreira, integrante da direção nacional do MST, lembra que o país cada vez mais importa arroz e feijão, e exporta soja:
— Estamos vendo uma propaganda enganosa do agronegócio, que une os grandes latifúndios com as grandes multinacionais, inclusive de agrotóxicos, que poluem o meio ambiente brasileiro.
Petróleo e fármacos serão focos
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concordam que a inovação vai criar um novo cenário industrial no país, em que alguns segmentos tradicionais, como o têxtil, devem perder força. Por outro lado, o Brasil pode estar, em 20 anos, na fronteira do conhecimento em áreas como petróleo e gás, fármacos e biodiversidade e energia. A parceria de instituições de ensino e inovação com as empresas será fundamental.
— O Brasil terá de fazer escolhas para saber em que áreas de conhecimento vai jogar energias, onde queremos estar mais próximos das fronteiras do conhecimento — disse José Augusto Coelho Fernandes, diretor de Política e Estratégia da CNI.
O setor da construção civil é um dos pontos onde o país mais pode avançar de forma sustentável, na opinião de Marina Grossi, presidente-executiva do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que lançou o documento “Visão Brasil 2050”. Para ela, o mundo deve, até 2020, iniciar a cobrança pela emissão de gases do efeito estufa, o que vai incluir no preço de produtos e serviços externalidades ambientais, mas pode levar à modernização de nossa construção.
País pode ter 2% das exportações globais
Mas Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral do WWF-Brasil, não está tão otimista. Ela acredita que, enquanto o tema da sustentabilidade não for uma preocupação central dos governos, o país não avançará no caminho de ser uma grande nação responsável:
— Se olharmos as projeções, o Brasil espera ter, em 20 ou 30 anos, padrões de desenvolvimento que os europeus, por exemplo, já têm agora. Não há uma visão para fazer o país ser a vanguarda, como houve com a Coreia do Sul, por exemplo.
Miguel Torres, presidente em exercício da Força Sindical, acredita que o Brasil estará muito melhor em 20 anos — também, em parte, por causa dos avanços da educação. Ele vê ganhos em competitividade, o que permitirá a carga horária semanal de 40 horas e salários mais elevados.
— O salário mínimo poderá ser de US$ 1 mil em 20 anos. As mudanças estão sendo velozes, no ano 2000 a luta era pelo salário mínimo de US$ 100. Hoje ele já passa dos US$ 300 — lembra.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que o país terá de se abrir ao comércio global, do contrário não terá como estar entre as cinco principais economias do mundo em 2030.
— Já tivemos um grande avanço, passamos de 0,8% das exportações mundiais, em 2000, para 1,41% em 2011, mas fomos ultrapassados por países como a Índia. É preciso um perfil como o americano, onde 50% das vendas são de produtos básicos e a outra metade é de produtos industrializados — diz ele, que acha possível o Brasil conquistar 2% das exportações globais em duas décadas.
O Brasil poderá ter cerca de 203 milhões de habitantes em 2022, 216 milhões em 2030 e chegar ao pico de 219,1 milhões em 2039, quando a população cairá. Novas projeções do IBGE apontam mudança: a população pode crescer de forma mais efetiva, e o pico populacional, ser atingido mais tarde. Para Antônio Tadeu de Oliveira, gerente de Pesquisas Sociais do IBGE, isso tem de estar na mente dos governantes para o planejamento de políticas públicas — como a educação.
Mais opiniões sobre o Brasil que queremos
Espero políticas sérias, sem assistencialismos, que terminem com o analfabetismo de forma definitiva”
Sylvia Helena de Carvalho Arcuri, Professora do ensino médio
Imagino que a gente possa ter liberdade de falar o que quiser e sem preconceito. Um Brasil menos violento, onde UPPs não serão necessárias”
Renê Silva, Criador do jornal “Voz da Comunidade”, do Complexo do Alemão
Entre as prioridades para o futuro estão a reforma tributária, investimentos em infraestrutura, a elevação da produtividade e mais inovação nas empresas”
Robson Braga de Andrade, Presidente da CNI

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