4 de julho de 2012

Rio: Título da Unesco impõe cuidados ao Rio


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Os cariocas receberam com justificado orgulho a decisão da Unesco de conceder ao Rio o título de Patrimônio Mundial como paisagem cultural. A decisão do organismo, pela inédita unanimidade dos 21 países que compõem o comitê responsável do organismo, foi anunciada no fim semana em São Petersburgo, na Rússia. O momento talvez não pudesse ser mais propício: a indicação compõe o pacote de boas notícias que, nos últimos anos, têm ajudado os cariocas a resgatar uma autoestima que, na virada do século, estava sufocada por uma série de agravos ambientais, sociais, políticos etc .
Fundamenta-se o júbilo não só pela outorga da Unesco, em si uma honraria com poder de galvanizar o orgulho de uma população inteira pelos atributos naturais e arquitetônicos da cidade. Mas movimentos anteriores, juntando ações do poder público, dinamismo empresarial e entusiasmo dos cidadãos, já vinham consolidando o Rio como palco viável de grandes eventos internacionais, com todos os benefícios aí embutidos. Tudo isso tem sido fundamental para criar essa nova maneira de os cidadãos se relacionarem com o Rio.
O contentamento, no entanto, não deve implicar relaxamento, de qualquer das partes, com a preservação das condições que se têm conectado para desembocar, ao menos até aqui, neste momento de extraordinário potencial para a cidade se descolar de vez de algumas de suas mais crônicas mazelas. Ao contrário, receber tal título pressupõe assumir responsabilidades com a preservação dos bens, naturais e arquitetônicos, que sensibilizaram a Unesco. É conveniente lembrar que, maravilhosa por natureza, a cidade nem sempre cuidou de seus tesouros com o merecido cuidado.
Esse é um comportamento a ser revisto. Assim como concedeu o título, a Unesco pode vir a retirá-lo. Monumentos naturais que justificaram a decisão do organismo, como o Pão de Açúcar, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo e a Praia de Copacabana, entre outros, terão de preservar sua ambiência. Ao mesmo tempo, o Rio deve avançar nas políticas públicas que visem a reduzir a níveis aceitáveis, por exemplo, os índices de poluição de algumas áreas desse patrimônio mundial (caso, por exemplo, das águas de boa parte da Baía de Guanabara). É preciso também perseverar nas intervenções urbanísticas — algumas já em curso, outras reclamando ações mais contundente — decorrentes dos compromissos assumidos pela cidade para sediar jogos da Copa do Mundo e promover as Olimpíadas de 2016. E sem deixar em segundo plano a necessidade de o choque de ordem ser perene.
A esse propósito, o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, apontou com precisão os cuidados que se impõem ante a responsabilidade pelo título concedido ao Rio: “Temos de conseguir construir uma política pública que harmonize com as políticas que são de natureza setorial — habitação, meio ambiente etc”. Sem dúvida, também transportes e sistema viário. Mais do que coroar a boa fase da cidade, agora maravilhosa até pelos cânones oficias da ONU, a decisão da Unesco traz orgulho no presente, mas projeta para o futuro o compromisso com o carinho, em sentido amplo, que deve marcar a relação dos cariocas com a sua cidade.

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