14 de março de 2014

Educação e cultura afetam o entendimento das crianças sobre o corpo humano





LONDRES - Um novo estudo constatou que crianças de 4 e 5 anos de idade já entendem que o corpo humano trabalha para nos manter vivos e a exposição a experiências culturais ajuda a ensinar isso.
A pesquisa, publicada na “British Journal of Developmental Psychology” pretendia identificar a idade em que as crianças começam a demonstrar entendimento biológico sobre o corpo humano e a ideia de que ele funciona para manter a vida. O trabalho também explorou como a educação, experiências culturais específicas e a religião influenciavam este entendimento.
Os resultados sugerem que muitas mudanças no entendimento das crianças sobre vida e corpo humano acontecem entre 4 e 7 anos de idade - mais cedo do que pesquisas anteriores indicavam que isto não acontecia antes dos 7 anos e só depois dos 10 anos elas entendiam de fato termos biológicos sebre corpo humano, vida e morte.
Os pesquisadores Georgia Panagiotaki e Gavin Nobes entrevistaram crianças entre 4 e 7 anos de três backgrounds diferentes: britânicos brancos, britânicos muçulmanos e paquistaneses muçulmanos. Eles observaram similaridades nas ideias das crianças e que elas eram igualmente inteligentes para entender o conceito de vida, seja crescendo na Inglaterra e usufruindo de um padrão alto de educação, seja em um vilarejo rural no Paquistão com opções limitadas.
Já as experiências educacionais e culturais influenciaram os aspectos do entendimento biológico entre os grupos. Uma descoberta intrigante foi que a exposição a experiências culturais, tais como a criação e morte de animais domésticos para fins religiosos e outros, acelerou o entendimento de crianças paquistanesas com poucas oportunidades de aprendizagem sobre a compreensão de que, sem os órgãos vitais, como o coração, cérebro e estômago, os seres humanos não podem sobreviver. Como resultado, eles eram melhores em entender a importância de órgãos vitais para a vida do que as crianças britânicas. Já os britânicos eram melhores em explicar a função biológica dos órgãos vitais porque tinham aprendido isso na escola mais cedo e com melhores recursos, em comparação com seus pares paquistaneses.
A compreensão das crianças britânicas sobre a função de cada órgão também aumentou com a idade, indicando que o ensino de fatos científicos sobre o corpo humano desde cedo melhora o conhecimento das crianças nesta área. Em contraste, às crianças paquistanesas isto não é ensinado até depois de 7 anos de idade, e seu conhecimento da função dos órgãos internos não melhorou com a idade. Isto sugere que, sem direito à educação e ao ensino de fatos e conceitos biológicos, apenas a vivência não é suficiente.
Segundo Panagiotaki, esta foi a primeira vez que crianças britânicas foram estudadas e comparadas com diferentes culturas desta forma.
- Crianças podem entender muito mais que pensamos sobre algumas coisas, como o que o coração faz ou para quê o sangue serve, mas elas não podem solucionar por si mesmas sem as explicações corretas. Crianças são muito interessadas e curiosas e é importante levar em conta o que elas já sabem, fornecendo informações e respostas às suas perguntas - diz.
Um total de 188 crianças - 82 delas de 4 a 5 anos; 106 de 6 a 7 anos - fizeram parte do estudo. O grupo mais jovem consistia em 33 britânicos brancos, 24 britânicos muçulmanos, e 25 paquistaneses muçulmanos. O grupo mais jovem era formado por 44 britânicos brancos, 26 britânicos muçulmanos, e 36 paquistaneses muçulmanos. Crianças britânicas brancas foram comparadas às britânicas muçulmanas que viviam nas mesma áreas e frequentavam os mesmos colégios de Londres, e a paquistanesas muçulmanas que frequentavam escolas primárias em vilarejos perto da cidade de Gadap, em Karachi.

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