É na aliança entre ONGs, universidades, empresas e governos que podem surgir soluções para problemas que afetam milhões de cidadãos
Nos últimos 20 anos, a sociedade ganhou espaço e passou a ter um papel de articuladora de diferentes setores, sendo corresponsável pela busca de soluções para diversos problemas sociais que enfrentamos.
O terceiro setor ocupa um papel relevante para a superação da desigualdade. Na conjuntura atual, no entanto, o surgimento de institutos sociais corporativos com pautas específicas e ligadas à valorização empresarial tem introduzido novos elementos nesse contexto.
Na década de 1990, timidamente, começou a se estabelecer alianças entre empresas e ONGs, foi criada a lei das OSCIPs (organizações da sociedade civil de interesse público) e o terceiro setor foi ganhando terreno como mobilizador e executor de projetos que buscavam enfrentar problemas públicos relevantes.
Pouco a pouco, parcerias foram se consolidando e cumprindo um papel relevante na reorganização de problemas sociais. Especialmente no campo educacional, por mais de uma década, a relação entre os setores fomentou o germe da renovação e inovação.
Embora reconhecendo a relevância e o impacto dessa história recente, a conjuntura atual sinaliza configurações ainda incipientes. Começa a se delinear o risco de que razões externas às necessidades públicas acabem determinando os investimentos (financeiros e técnicos) em nome do enfrentamento de desafios sociais.
Nos últimos anos, as corporações passaram a investir no crescimento e no desenvolvimento de seus institutos e fundações potencializando projetos próprios ou liderando e organizando grandes consensos. A ampliação dos atores e recursos são bem-vindos, desde que não se sobreponham aos espaços constituídos nesse histórico recente.
O esforço conjunto necessário para a construção de novas soluções apresenta sinais de enfraquecimento, dando lugar a modelos mais tradicionais em que a lógica de contratação de serviços se fortalece.
Parceria não pode ser sinônimo de encomenda. Por essa razão, a discussão sobre o papel que os mecanismos de financiamento representam não pode ficar em segundo plano. Para se construir um cenário favorável é preciso garantir autonomia técnica às organizações.
Para isso precisamos repensar também a relação unilateral que vem se estabelecendo no setor, em que a maioria das ONGs, em função do modelo de financiamento, acaba ficando numa posição de subordinação a quem as financia.
O desafio está em criar um mecanismo que gere espaço para o fortalecimento institucional das ONGs, comprometido prioritariamente com a busca de soluções e que promova oportunidades para a negociação de pontos de vista e de aprendizagem para todos os envolvidos.
É necessário zelar pela multiplicidade de olhares e compromissos, próprios de cada setor. As parcerias devem ser espaços de produção de conhecimento que possam ser aplicados para ajudar a transformar a realidade.
Cada espaço institucional tem seu lugar no cenário local, nacional e global, e as organizações sem fins lucrativos, por estarem atreladas a uma causa, têm a obrigação de promover reflexões conceituais, entender o quadro para além dos fatos, produzir discussões, inovações e propor ajustes.
O terceiro setor tem responsabilidade técnica e sua contribuição é criar novas perspectivas e um olhar para o que não está dado.
É nessa aliança produtiva que se estabelece entre ONGs, universidades, empresas e governos que podem surgir soluções relevantes para problemas que afetam milhões de cidadãos.
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