SÃO PAULO - A revelação diária de detalhes dos esquemas bilionários de desvio de verbas dá a sensação de que o país está perdido. Talvez esteja mesmo, mas é bom ter em mente que não somos os primeiros nem os únicos a percorrer essas águas. Na verdade, há indícios de que o Brasil nem sequer está entre os mais corruptos do mundo --o que diz bastante sobre nosso planeta.
Rankings de percepção de corrupção como os divulgados pela Transparência Internacional têm problemas metodológicos dos mais sérios. Ainda assim, não é o caso de atirá-los no lixo. De vez em quando, por caprichos da história e pela criatividade de pesquisadores, temos a chance de topar com medidas mais objetivas de atitudes relacionadas à corrupção, e elas indicam que os rankings não são uma invencionice completa.
Um dos exemplos mais elegantes vem de Nova York. Entre 1977 e 2002, devido a algumas excentricidades legais, o pessoal diplomático das 146 missões na ONU tinha imunidade contra multas por estacionamento irregular. Ray Fisman e Edward Miguel tabularam os autos de infração lavrados mas não pagos, chegando à conclusão de que a corrupção tem uma dimensão cultural, já que as diferenças entre as missões foram gritantes e seguiram mais ou menos os estereótipos. Enquanto os kuaitianos cometeram 246,2 violações por diplomata por ano, funcionários de 21 representações como Suécia, Noruega e Canadá não infringiram a lei ou tiveram a decência de pagar a multa. O Brasil não saiu bem na foto, ficando na 29ª posição entre os mais corruptos. Outros campeões do desrespeito às normas foram Egito, Chade, Sudão, Bulgária e Moçambique.
Mas corrupção não é só cultura, que leva tempo para mudar. Segundo uma fórmula consagrada, o grau de corrupção de um país depende ainda do nível dos monopólios ali existentes, do poder discricionário das autoridades e da transparência. Esses são fatores mais fáceis de mexer.
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