RIO DE JANEIRO - Os dados, divulgados na semana passada, são para nos deixar apreensivos quanto ao futuro deste país: 60,1% dos alunos de português da 5ª série da rede pública estão abaixo do nível de rendimento que se considera minimamente adequado. Aos 10 anos de idade, são incapazes de identificar o personagem principal de uma narrativa simples ou reconhecer o assunto de uma reportagem. E, aos 14 anos, 76,4% dos alunos da 9ª série não conseguem interpretar certas expressões ou analisar o que um cronista quis dizer com seu texto.
Veja bem, não se trata de exigir dos alunos que conjuguem o futuro do subjuntivo de um verbo, façam uma análise sintática de um verso de Camões ou dissequem a etimologia da nova expressão "petro-roubalheira", mas apenas demonstrar que entendem o que estão lendo.
Se não conseguem compreender coisas tão simples, como se comportarão diante de um ponto de geografia, história ou biologia? Ou de um enunciado de matemática, física ou química? Talvez não alcancem nem mesmo a única ciência que parece lhes interessar, a informática.
Minha geração sofreu com o gramatiquês obsessivo de muitos professores de português, mais preocupados com a "pureza" da língua do que com a discussão sobre os escritores que realmente diziam coisas. À falta desse estímulo, os próprios garotos se encarregavam --uns torciam por Jorge Amado, outros, por Graciliano Ramos; eu lia Nelson Rodrigues e achava muito melhor.
Eu sei, o mundo mudou e a palavra impressa talvez já não seja o principal reduto da inteligência. Mas uma certa intimidade com ela continua essencial para fazer de um jovem um cidadão em potencial. Capaz, por exemplo, de justificar o título de eleitor que logo começará a usar ou de saber para onde vai o dinheiro dos impostos que em breve será obrigado a pagar.
17/12/2014, Folha de S.Paulo
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