24 de dezembro de 2014

Enem 2013: Melhores escolas públicas têm alunos de renda alta

Perfil sócio-econômico influencia resultados - Editoria de Arte
RIO - Entre as 500 escolas públicas com melhor desempenho médio nas provas objetivas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013, 80,6% têm, predominantemente, alunos com perfil socioeconômico considerado médio alto, alto ou muito alto. Ou seja, eles têm renda familiar entre cinco e sete salários mínimos ou mais de sete salários.
— Isso mostra que a discussão não é sobre qual aluno é menos capaz, mas o que estamos oferecendo para ele — avalia a diretora-executiva da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz. — O rendimento escolar está muito ligado à condição socioeconômica. É preciso dar aos mais pobres o mesmo acesso à informação dos alunos mais ricos.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou anteontem as notas médias das escolas de todo o país no Enem. Pela primeira vez, o desempenho foi apresentado com estratificação nos níveis socioeconômicos (INSE), divididos entre 1 e 7.
O cálculo foi feito a partir das informações fornecidas pelos alunos no questionário contextual. Os níveis foram agrupados por variações. No mais baixo, estão aqueles cujos pais têm ensino fundamental completo ou em curso e renda de até um salário mínimo. Eles também possuem bens como TV, geladeira e um celular. Escolas onde alunos com esse perfil são maioria não estão entre as 500 melhores.
A partir do nível 5 (médio alto), que concentra maior parte das escolas neste recorte (44%), os pais têm ensino médio completo, renda de cinco a sete salários e bens como carro e TV por assinatura.
Numa das pontas da escala estão as unidades com alunos de nível socioeconômico muito alto. Elas são 2,4% entre as 500 melhores, e seus estudantes têm renda familiar acima de sete salários e pais com ensino superior, além de contar com diaristas em casa duas vezes por semana.
‘ORIENTAÇÃO DE PRIMEIRA LINHA’
A relação entre renda e desempenho escolar é uma constante no país. Agora, segundo a diretora-executiva da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz, os pesquisadores vão se debruçar sobre os dados para esmiuçar o que está por trás dessa interferência.
— Um fator importante é a imersão que esses alunos têm num cotidiano enriquecido culturalmente — diz. —Eles convivem num ambiente com vocabulário mais rico, acesso a tecnologia e livros, além de circular por museus, teatros e cinemas.
Tal realidade, segundo ela, possibilita proficiência muito melhor. Isso explica, inclusive, por que as instituições particulares dominam as primeiras posições no ranking geral do Enem (são 93 entre as cem melhores).
Priscila enfatiza que o fato não deve ser tomado como justificativa para o desempenho ruim desses alunos. É preciso ser visto como uma referência para futuras políticas educacionais.
— Se a prova é mais difícil para os mais pobres, são justamente eles que precisam de orientação de primeira linha — destaca ela. — Esses jovens precisam de políticas sociais e incentivos que possibilitem a imersão cultural dos mais ricos. Eles também têm que ter balé, inglês ou natação depois da aula, além de frequentar cinema e ler livros.
Em meio às 20 primeiras escolas no ranking geral, só uma é pública: o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, com a 12ª posição. A unidade, que tem apenas o ensino médio, seleciona seus alunos por meio de uma prova de ingresso. Com isso, a maioria dos aprovados vem de escolas particulares. Não é à toa que o nível socioeconômico dos estudantes é “alto”.
— Estamos mudando isso com políticas de ação afirmativas — garante o diretor da escola, Edson Luis Nunes.
O colégio tem estrutura respeitável. Com orçamento anual de aproximadamente R$ 250 mil, a maior parte dos professores tem doutorado e todos atuam em regime de exclusividade. Para Nunes, o modelo deveria ser referência para demais escolas públicas.
— Para mim, nossa realidade é perfeitamente aplicável a qualquer escola estadual. Mas, para isso, é preciso mais investimento financeiro.

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