Uma análise dos inscritos para a edição do exame em 2007 mostra que, entre os candidatos com pior nota, a probabilidade de um deles escolher o magistério é três vezes maior do que entre aqueles com melhores notas. Quem ingressa nos cursos de Pedagogia, que formam os professores da educação infantil e do ensino fundamental, tem um perfil específico: baixo nível socioeconômico e pais com escolaridade baixa.
Dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) mostram que 41,6% dos estudantes de Pedagogia têm renda mensal até três salários mínimos e quase um terço (32,1%) concilia os estudos com o trabalho para contribuir com o sustento da casa. Os pais de quase metade dos alunos têm grau de escolaridade baixo: 46,5% estudaram só até a 4.ª série do ensino fundamental e quase 70% cursaram o ensino médio integralmente em escola pública. Os dados referem-se ao Enade 2005, os mais recentes disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC).
O assessor especial da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Célio da Cunha, alerta que o problema de desvalorização é antigo. A universalização do ensino fundamental foi feita à custa dos baixos salários dos professores. Quando se expandiu o número de escolas e fez-se a inclusão de mais alunos, ironicamente foram os professores que financiaram isso porque a expansão não foi feita melhorando a carreira e os salários.
O resultado desse processo pode ser medido pelo desinteresse dos estudantes do ensino médio. Pesquisa da Fundação Victor Civita realizada no ano passado, com 1,5 mil jovens, revelou que apenas 2% deles querem ser professor. O conselheiro nacional de Educação, Mozart Neves Ramos, diz acreditar que quatro ações principais podem solucionar esse quadro: melhores salários, bons planos de carreira, formação inicial sólida e condições de trabalho adequadas.
Na avaliação dele, o Brasil deveria se inspirar no que fizeram os países que hoje têm os melhores índices educacionais, como Cingapura, Coreia do Sul e Finlândia. A gente copia tanta coisa ruim e não olha as coisas boas que estão fazendo a diferença nesses lugares. Eles conseguiram atrair 20% dos alunos mais talentosos para o magistério simplesmente com um salário inicial atraente. Esse tem de ser o primeiro passo , defende Ramos.
Para a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, a valorização da carreira passa pela melhoria dos índices educacionais. Recuperar a credibilidade da escola na formação dos jovens é um fator que pode parecer subjetivo, mas faz diferença no momento da escolha da profissão . Pilar, que é professora de História, diz acreditar que a sala de aula é um ambiente de trabalho que tem a ver com a juventude. Não existe muita rotina quando se trabalha com crianças, há uma provocação constante e permanente pela busca do conhecimento.
Cunha afirma também que será necessária uma mudança de cultura e da visão que a própria sociedade tem do professor hoje. A sociedade não acordou ainda para a importância da educação e o papel estratégico do professor para o desenvolvimento do país. Se um bom aluno diz que quer ser professor, as pessoas até riem dele , afirma.
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