1 de junho de 2011

Celular pode ser cancerígeno


01 de junho de 2011
 Telecomunicações | O Globo | BR
Pela primeira vez, OMS classifica aparelhos como perigosos; mas pede mais estudos
UM HOMEM fala ao celular com o telefone colado ao ouvido; hábito que aumenta o risco de possíveis efeitos nocivos à saúde, dizem os médicos
Antônio Marinho*
Ouso de telefones celulares possivelmente aumenta o risco de formação de tumores cerebrais, inclusive malignos. Esta é a conclusão da Agência Internacional para a Investigação de Câncer (Iarc, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial de Saúde; a partir da análise de estudos publicados sobre o tema e revisados esta semana num painel com 31 cientistas de 14 países, em Lyon, na França. Depois de ouvir os especialistas, a OMS classificou os campos de frequência eletromagnética, como os emitidos por celulares, como "possivelmente cancerígenos" para humanos. É a primeira vez que a organização faz esta advertência.
Pelo menos cinco bilhões de celulares estão em operação no mundo e, segundo a Iarc, a exposição aos campos eletromagnéticos desses dispositivos sem fio pode causar efeitos a longo prazo na saúde. Os cientistas relacionaram os celulares a maior risco de glioma (tumor que se inicia nas células glia do sistema nervoso) e neuroma acústico (tumor benigno no canal auditivo). Os dados serão publicados na edição de julho da revista "The Lancet Oncology".
O Iarc cita estudo de 2004 que indica aumento de 40% no risco de tumores cerebrais em pessoas que falam ao celular por mais de 30 minutos por dia. Antes do painel em Lyon, a OMS afirmava que "não havia estudos conclusivos". Agora, o celular entrou na mesma categoria de substâncias como estireno (para produção de plásticos) e clorofórmio. O índice que avalia o risco de câncer das substâncias vai de 1 a 4.
- A evidência é forte para classificar as ondas de celulares no grupo 2B. Isto quer dizer que pode existir risco de câncer ao usar os aparelhos. Mas é preciso avaliar melhor esta relação - disse Jonathan Samet, da Universidade do Sul da Califórnia, líder do painel.
Christopher Wild, diretor da Iarc, disse que, "devido às potenciais consequências para a saúde, é importante que sejam realizadas mais investigações sobre os efeitos a longo prazo. Enquanto isso, é melhor reduzir a exposição".
A posição de Wild é a mesma de Ubirani Utero, chefe da área de Câncer Ocupacional do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Ela diz que estudos, feitos principalmente na Europa, têm apontado maior risco de tumores cerebrais em usuários de celulares. E a população deve ser informada.
- No Brasil, o uso de celulares é mais recente do que em outros países e fica difícil comprovar relação com tumores cerebrais. Mas é importante se proteger, especialmente no caso de crianças, grupo em que o cérebro ainda está se desenvolvendo - afirma. - É melhor estimular outras formas de comunicação e evitar passar horas ao celular. E pode-se usar fones para afastar o aparelho da cabeça ou trocar o celular de ouvido.
Daniel Herchenhorn, chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital do Câncer do Inca, diz que estudos desse tipo, observacional, devem ser encarados com cautela. Pesquisas que tentem provar a associação devem separar pacientes em grupos de acordo com o tempo de uso de aparelho, modelo e outras variáveis que possam interferir no resultado.
- Deficiências à parte, a observação de aumento de incidência de tumores cerebrais em usuários de celular serve de alerta para que cuidados com uso excessivo, especialmente em jovens, sejam reavaliados. Mecanismos de uso à distância, como fones de ouvido ou bluetooth, ainda não foram bem testados - diz.
A situação ainda é um pouco confusa porque a Iarc se limitou a dizer que o "consumidor é quem deve decidir" o que fazer a partir de agora. A OMS não afirma taxativamente que usar celular causa câncer, mas tampouco descarta esta hipótese. Além disso, os especialistas não fixam um tempo máximo de uso, nem mínimo, para que seja perigoso. E não fazem qualquer recomendação específica.
Indústria contesta risco
Um estudo publicado em 2010 com quase 13 mil usuários de celulares ao longo de dez anos não mostrou associação clara entre tumores cerebrais e aparelhos sem fio. Em nota, Michael Milligan, secretário-geral do Mobile Manufacturers Forum (MMF), que representa fabricantes de celulares e outros dispositivos, diz que o setor de comunicações móveis continuará a apoiar pesquisas bem conduzidas e independentes que ajudem a esclarecer qualquer incerteza identificada pela avaliação da Iarc:
- Equipamentos de telecomunicações sem fio, incluindo telefones celulares e suas estações rádio-base, foram projetados para operar dentro de limites internacionais e nacionais que já têm margens de segurança substanciais.

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