1 de novembro de 2011

Inclusão e crescimento econômico: Fernando Veloso


31 de outubro de 2011
Educação e Ciências | Folha de S. Paulo | Fernando Veloso | BR


A importância da educação aumenta na medida em que a economia e as tecnologias ficam mais complexas

No último artigo, mostrei que a educação estimula o crescimento econômico por meio de mecanismos como a elevação da produtividade do trabalho e a criação e adoção de novas tecnologias.
Para que isso ocorra, é fundamental elevar a qualidade da educação, medida pelo nível de aprendizagem dos alunos. A educação também afeta o crescimento por meio de outro canal: a inclusão econômica e social.
Como argumenta Michael Spence no recém-lançado "The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World", a inclusão é essencial para o crescimento sustentado, por dois motivos.
A primeira razão é que o crescimento econômico é um processo de aprendizado, no qual novas tecnologias e produtos são continuamente descobertos e tornam os processos anteriores obsoletos.
Para que essa dinâmica funcione, ela deve ser inclusiva -tanto para incorporar consumidores que demandarão novos produtos como para criar condições para que surjam empreendedores que satisfaçam essa demanda.
Nesse processo, a educação eleva o nível de renda e favorece a inclusão de amplos segmentos da população no mercado consumidor. Além disso, uma educação de qualidade cria condições para que os empreendedores sejam capazes de identificar novas oportunidades e os trabalhadores tenham flexibilidade para se adaptar diante das mudanças.
Ou seja, a importância da educação -de qualidade- aumenta na medida em que a economia fica mais complexa e as tecnologias tornam-se mais sofisticadas.
A segunda dimensão da inclusão para o crescimento está relacionada à noção de justiça social. Uma sociedade em que há igualdade de oportunidades estará mais disposta a fazer os sacrifícios necessários para viabilizar investimentos que geram crescimento econômico.
Por outro lado, a percepção de que os benefícios do crescimento ou os custos de crises econômicas não estão sendo distribuídos de forma justa pode gerar dissenso ou mesmo conflitos sociais, como tem ocorrido em vários países do mundo nos últimos meses.
Essa percepção é muito prejudicial para o crescimento. Além do aumento da incerteza, que reduz o investimento, as tensões sociais muitas vezes inviabilizam um consenso mínimo em torno do apoio a políticas que favoreçam a superação de crises e o crescimento sustentado.
Educação de qualidade para todos é a melhor forma de assegurar igualdade de oportunidades. Ela estimula o dinamismo econômico. Portanto, melhorar a qualidade da educação é componente fundamental de qualquer estratégia de crescimento com justiça social.
Fernando Veloso, 44, é pesquisador do IBRE/FGV.

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