Hoje, a parcela dos 1% mais ricos concentra mais de 20% da renda geral da sociedade
20 de março de 2012 | 20h 05
Sergio Pompeu, do Estadão.edu
A desigualdade avança a passos largos na sociedade americana e o governo não parece mais ser capaz de atenuar esse processo. A parcela dos 1% mais ricos detinha em 1960 cerca de 8% da renda geral da sociedade; hoje concentra mais de 20%.
“No século 20, havia a sensação de que o governo estava do nosso lado, do lado da maioria da sociedade. Essa sensação se erodiu na última geração”, disse ao Estadão.eduRobert Lieberman, diretor da Escola de Políticas Públicas e Relações Internacionais (Sipa, na sigla em inglês) da Universidade Columbia, que fará palestra sobre o tema nesta quarta-feira em São Paulo (siga o evento na íntegra no linkwww.estadao.com.br/educacao).
Em artigo publicado no ano passado na revista Foreign Affairs, Lieberman advertiu que, se forem usados padrões comparativos tradicionais, o estágio atual coloca os Estados Unidos na companhia de nações como Gana e Nicarágua quando se trata de desigualdade social. “Isso alimenta a polarização política, a desconfiança”, escreveu. “E tende a distorcer o funcionamento de um sistema democrático no qual o dinheiro confere voz e poderes crescentes.”
Nesse aspecto, as últimas campanhas eleitorais têm mostrado níveis inéditos de polarização política nos EUA. Na atual corrida, aliás, o sistema universitário entrou na mira de candidatos republicanos. O populista Rick Santorum acusou as universidades de ajudarem a desconstruir o caráter nacional, por questionarem a fé religiosa. Outra queixa frequente no front republicano diz respeito ao suposto esnobismo da parcela da população com níveis mais altos de educação.
“Acho que as colocações de Santorum são uma completa bobagem”, diz Lieberman. “Se você analisar o que a universidade faz pelos estudantes e pela sociedade em geral, verá que as acusações dele são falsas.”
Apesar disso, o diretor da Sipa admite que as universidades americanas, referência global de qualidade, têm desafios grandes pela frente. “Elas precisam confrontar questões de acesso e de custo, porque hoje as anuidades são muito caras”, diz. “Precisamos nos certificar de que as instituições de elite oferecem de fato oportunidades para os melhores alunos dos EUA e do mundo, e não só para quem já é da elite.”
Especialista no estudo de ações afirmativas, Lieberman se diz “ansioso” para conhecer experiências do Brasil nessa área. “O que ocorre no Brasil afeta outros lugares, especialmente agora que o País se tornou mais rico e influente”, diz. “É fascinante ver como diferentes países pensam questões éticas e raciais.”
Nos seus estudos, Lieberman já mostrou o quanto a estrutura do Estado do Bem-Estar Social e políticas como a das ações afirmativas podem ter resultados inesperados. Mecanismos antigos do Welfare State aprofundaram, por exemplo, as divisões entre comunidades pobres brancas e negras nos Estados Unidos. “Todos concordam que a desigualdade é ruim, mas cada país precisa pensar com cuidado como promover a igualdade. E isso tem a ver com suas instituições, sua história e cultura.”
O estudo de problemas comuns a países e regiões, para desenvolver nos alunos uma perspectiva global na análise e aplicação de políticas públicas, é uma das prioridades da escola dirigida por Lieberman. “Não há mais temas locais. E tudo que acontece no campo das políticas públicas é afetado por fatos que acontecem em outros países ou região”, diz. “Queremos que nossos estudantes tenham essa perspectiva global, entendam que há problemas comuns a diferentes países ou regiões, e apliquem isso no mundo profissional.”
Lieberman é um dos integrantes da comitiva de Columbia no ciclo Grandes Universidades, criado pela Fundação Estudar para divulgar no País as melhores instituições de ensino no mundo. No evento desta quarta-feira, que será realizado no Insper (Rua Quatá, 300, Vila Olímpia, zona sul), Columbia também vai estar representada pelo seu reitor, Lee Bollinger, que fará uma aula aberta sobre liberdade de imprensa, e pelo pró-reitor acadêmico, John Coatsworth.
Interessados em participar do evento podem se inscrever na recepção do Insper a partir das 18 horas. A programação começa às 18h30, com discursos de boas-vindas do presidente do Insper, Claudio Haddad, e do empresário Jorge Paulo Lemann, um dos mantenedores da Fundação Estudar. O ciclo termina às 21h15, após uma mesa-redonda de ex-alunos de Columbia.
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