21 de março de 2012

Xenofobia: Antigos fantasmas assustam a Europa


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Uma onda de atentados de conotação racista e xenófoba na França acende o sinal vermelho no Continente. A Europa, com seu admirável avanço civilizatório e cultural, abriga em seus porões antigos fantasmas à espera apenas de uma centelha para voltar a assombrar. A crise econômica-financeira é um fio desencapado em que trafegam mensagens de medo, nacionalismo e ódio, que vêm à tona como no caso do ataque a tiros de segunda-feira a uma escola judaica em Toulouse, no qual morreram um professor, seus dois filhos de 6 e 3 anos, além da filha do diretor, de 8.
A Europa convive com o dilema entre receber imigrantes para o trabalho duro que os europeus não querem mais fazer, com a pressão dos próprios imigrantes de países pobres em busca de uma vida melhor e os sentimentos de xenofobia e racismo de parte da população. A crise econômica potencializa esses traços contraditórios e repulsivos.
Ataques contra imigrantes têm sido relativamente frequentes na Europa, enquanto a crise econômica evolui e destrói empregos. Apenas em dezembro do ano passado, um italiano matou dois vendedores ambulantes senegaleses em Florença, suicidando-se em seguida. Em Turim, um acampamento foi incendiado depois de uma adolescente fazer uma falsa acusação a um cigano. Na Hungria, milícias do partido do governo estão caçando ciganos nas aldeias.
Sob o frio e o desenvolvimento nórdicos os velhos fantasmas também espreitam. Em agosto, um norueguês de extrema-direita atacou a tiros um acampamento de jovens do Partido dos Trabalhadores da Noruega, depois de ter detonado um carro-bomba em Oslo. No total, 77 pessoas morreram.
Na França, a campanha para as eleições presidenciais de 22 de abril deixa o ambiente mais tenso e põe em evidência as políticas para lidar com a imigração. Em busca da reeleição, o presidente Nicolas Sarkozy endurecera o discurso para roubar votos da postulante da extrema-direita, Marine Le Pen, cuja Frente Nacional defende posições xenófobas.
Tanto Sarkozy quanto Le Pen tiveram de pisar no freio depois dos atentados — antes da escola judaica, quatro militares franceses de origem muçulmana e caribenha foram mortos aparentemente pela mesma pessoa, nos dias 11 e 15. Sarkozy, que na campanha ameaçara tirar a França do Tratado de Schengen (fronteiras livres na UE) se os controles não fossem reforçados, trocou o discurso pelo de estadista e ganhou amplo espaço na mídia por sua correta reação aos crimes, homenageando as vítimas e adotando medidas para tentar prevenir novas tragédias. Ainda é cedo para saber se, de alguma forma, o aumento da violência contra estrangeiros poderá beneficiar eleitoralmente o principal rival de Sarkozy, o socialista François Hollande, que liderava as pesquisas em relação à disputa de um provável segundo turno.
Qualquer que seja o eleito, sua missão será serenar os ânimos da sociedade francesa e confinar as minorias racistas e xenófobas estritamente aos limites da lei, reduzindo a chance de os velhos fantasmas europeus voltarem a ver a luz.

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