RIO DE JANEIRO - Um programa que gosto de fazer com amigos de visita ao Rio é levá-los ao Posto 6 de Copacabana e, de frente para o mar, instá-los a procurar o horizonte. Ao longe, montanhas; mais ao longe, mais montanhas; e, por trás destas, ainda mais montanhas. Não se sabe onde terminam. "On a clear day you can see forever", dizia uma canção de Alan Jay Lerner sobre Nova York. O que ele não diria sobre o Rio?
Mas, para que não se atribua esse cenário ao simples talento divino, é só olhar à esquerda e ver a curva da avenida Atlântica, sublinhada pela paliçada de prédios altos dos anos 30 e 40, que, por muito tempo, fizeram de Copacabana um nicho cosmopolita num país ainda acanhado e sem assunto. Ao fundo, o Pão de Açúcar, desde 1912 com o bondinho. Tudo isso levou a mão do homem.
Que não é santa, mas nem sempre interfere para sujar, corromper, demolir. Na maioria dos cartões-postais do Rio, vê-se a intervenção humana. Tome a floresta da Tijuca, dizimada pelo café nos séculos 18 e 19 e replantada pelo engenheiro Archer e seis escravos, de 1861 a 1872, para se tornar a maior floresta urbana do mundo. E que contou com sementes e mudas do hoje humilde Passeio Público -este também, na origem, um brejo, e construído em 1779 pelo mestre Valentim.
Tome o Jardim Botânico, outra criação humana. Ou a baía de Guanabara, margeando a cidade, a velha e a nova. O parque do Flamengo, com o paisagismo de Burle Marx. Flamengo, Botafogo e o centro, vistos da Urca. O aconchego natural do Horto, da Gávea, do Cosme Velho. Os muitos recantos deliciosos da Tijuca, do Grajaú, até de São Cristóvão. Tantos levaram séculos tentando destruir o Rio. Não conseguiram.
O título de patrimônio da humanidade, dado pela Unesco na categoria paisagem cultural, é também um reconhecimento ao fato de o Rio ter sobrevivido a si mesmo.
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