27 de novembro de 2013

Brasil enfrenta o desafio da inovação

GLOBO -  by Cesar Baima  / 27/11/2013



RIO - A produção científica brasileira explodiu nos últimos anos, mas as descobertas nos laboratórios ainda raramente se traduzem em novas tecnologias e patentes, gerando ganhos econômicos e de competitividade para o país. Agora, porém, o governo decidiu apostar alto em uma iniciativa que pretende diminuir a distância entre ciência básica e aplicações práticas, aproximando cientistas e indústrias ao mesmo tempo em que estimula os investimentos da iniciativa privada em pesquisa e desenvolvimento. Com orçamento previsto em R$ 1,5 bilhão até 2015, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), criada no início do ano, teve seu contrato de gestão finalmente assinado este mês, habilitando-se a financiar projetos que coloquem as pesquisas a serviço das linhas de montagem.
— O Brasil tem uma boa ciência, mas ter uma boa produção acadêmica não implica necessariamente em criar novas tecnologias, e este é um dos maiores desafios que o país enfrenta hoje — avalia Alvaro Prata, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e um dos participantes da mesa de debates sobre o papel da ciência na inovação durante o 6º Fórum Mundial de Ciência, que termina hoje no Rio. — Mas não é um processo trivial traduzir a ciência em tecnologia, transformar o avanço do conhecimento em produtos e processos que levem a benefícios econômicos e sociais e deem mais competitividade para o país. Para isso, estamos criando instrumentos e programas como a Embrapii.
Prata conta que a Embrapii foi inspirada no sucesso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cujas experiências levaram o Brasil de um país importador de alimentos há 50 anos a um dos maiores produtores mundiais no setor hoje. As duas, no entanto, terão estruturas bem diferentes. Enquanto a Embrapa é uma empresa pública, com laboratórios, pesquisadores e funcionários próprios, a Embrapii foi constituída como uma organização social com o objetivo de juntar as redes de laboratórios já existentes, como as dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e de universidades, às necessidades da iniciativa privada. A ideia é que os centros de pesquisa entrem nos projetos apenas com seu capital físico e humano, com a Embrapii e as empresas dividindo os riscos financeiros do investimento no desenvolvimento de novos produtos e processos, na proporção de um terço dos custos para cada participante da equação.
— Assim, esperamos unir as competências e capacidades das instituições de pesquisa brasileiras às demandas de empresas que muitas vezes não estão dispostas a investir em estruturas próprias de pesquisa e desenvolvimento — diz Prata. — Com a Embrapii, os projetos de inovação vão ficar mais atrativos para as empresas, pois elas terão que bancar apenas um terço dos seus custos mas poderão usufruir da totalidade de seus resultados.
Com o tempo, Prata espera que a iniciativa acabe por fomentar uma mudança de cultura nas empresas brasileiras de forma que elas vejam cada vez mais que vale a pena correr o risco de investir em pesquisa e desenvolvimento e, eventualmente, criem estruturas próprias para isso.
Ele, porém, também reconhece que a Embrapii já nasce com um defeito característico de programas do tipo no Brasil: a falta de garantia de que terá continuidade após se esgotarem os R$ 1,5 bilhão inicialmente previstos para os investimentos.
— A única garantia de continuidade da Embrapii é seu próprio sucesso — admite.

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