28 de novembro de 2013

Para reduzir as disparidades educacionais

GLOBO - by EDITORIAL  /  28/11/2013



Um campo em que a Educação brasileira evoluiu muito foi no desenvolvimento de indicadores para acompanhar a evolução do aprendizado. Nos governos tucanos e petistas, surgiram o “Provão”, depois convertido em Enade, para medir a qualidade do ensino superior; e, voltado para o ensino básico, criaram-se a Prova Brasil/Saeb e o Enem, Exame Nacional do Ensino Médio, também usado por universidades no processo de classificação de vestibulandos.
O conjunto de indicadores é instrumento essencial de trabalho para educadores em geral, planejadores, estudiosos da área. Sem ele, por exemplo, teria sido impossível estabelecer metas para o crucial aprimoramento da baixa qualidade do ensino público básico. Não importa se possa haver poucas variações a cada divulgação de resultados. Interessa acompanhar as tendências em prazos mais largos, aprofundar-se na análise de casos específicos, consolidar diagnósticos.
A divulgação do Enem de 2012 mostrou, como todos os anteriores, o grande fosso existente entre o ensino privado e o público. Nenhuma novidade, mas trata-se de um problema que precisa ser repisado, para que governantes, professores, famílias e a sociedade como um todo tratem de reduzi-lo.
Entre as 20 melhores escolas do país, pela avaliação do Enem, apenas o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (MG), o quarto colocado, é um estabelecimento público, com a média de 706,22 pontos, 22 abaixo do primeiro lugar, Colégio Bernoulli, também mineiro.
Do universo pesquisado — o Enem é voluntário e nem todas as escolas se enquadram nas exigências para participar do exame —, 93% dos 10% dos colégios com notas mais elevadas são privados, e 98% do extremo posto, públicos.
Há uma resistência grande do governo federal (MEC) em aceitar rankings com os dados do Enem. Eles terminam sendo feitos pela imprensa. Ou quando o admitem, autoridades procuram fazer comparações em que a escola pública não se saia tão mal. Há poucos dias, o MEC demonstrou como a “elite” da rede pública supera notas do ensino privado em Ciências da Natureza e Redação, embora fique abaixo em Matemática e Ciências Humanas. O que isso prova? Nada importante.
Como a origem social das famílias é um dos fatores determinantes no rendimento escolar dos filhos, é compreensível que estabelecimentos particulares apareçam à frente dos públicos, com as conhecidas exceções de escolas federais. O Enem, como qualquer indicador isoladamente, não consegue refletir por completo a situação em que se encontra o ensino em geral. Claro, é um termômetro a ser considerado. Mas não é preciso fazer análises camaradas para atenuar os sérios desníveis que existem no mapa educacional brasileiro. A melhor maneira de não se resolver um problema é fingir que ele não existe. Ou disfarçá-lo para que não pareça tão sério.

Nenhum comentário:

Postar um comentário