Seria interessante se os jovens brasileiros dos protestos de junho fizessem como os chilenos
Seria interessante ver o que aconteceria no Brasil se os líderes dos protestos de junho seguissem o exemplo de seus colegas chilenos e saíssem das ruas para as urnas.
Ou melhor dizendo: se somassem aos legítimos e necessários protestos a atividade política convencional, disputando votos, como fizeram no Chile. Para deixar bem claro: a mobilização social é parte essencial da democracia. Abrir mão dela para se dedicar só à atividade parlamentar seria mais que um erro; seria um crime de lesa sociedade.
Voltemos ao Chile. Lá, elegeram-se para o Parlamento quatro líderes dos formidáveis movimentos estudantis de 2011 em diante: duas comunistas, Camila Vallejo e Karol Cariola, e dois jovens que criaram seus próprios movimentos, a saber, a Revolução Democrática, pela qual se elegeu Giorgio Jackson, e Esquerda Autônoma, de Gabriel Boric.
É necessário somar a eles o líder dos pescadores, Iván Fuentes, também eleito. Creio que o paralelo mais próximo no Brasil seria a eleição de, digamos, João Pedro Stedile, do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), para o Congresso.
A participação desse tipo de liderança na atividade parlamentar seria um sopro de ar fresco para instituições que estão ficando emboloradas porque é visível que os representados não se sentem realmente representados por seus representantes, com perdão das redundâncias.
No Brasil, o que dificulta a transição dos jovens líderes de junho da rua para a urna é o fato de que eles preferiram manter-se como um coletivo sem rosto. Uma ou outra figura do Movimento Passe Livre andou falando enquanto os protestos tinham como foco principal o aumento das tarifas de transporte público. Logo sumiram, ao contrário do que acontece no Chile.
Claro que ajuda a longa tradição de mobilização popular chilena, país que foi o pioneiro na América Latina em levar ao poder uma Frente Popular formada principalmente pelos partidos Socialista e Comunista, no já remoto ano de 1938.
O PS chileno, que agora volta ao poder com Michelle Bachelet, está fazendo 80 anos em 2013, e seus vínculos com o movimento sindical e social não têm paralelos no Brasil, exceção ao PT de antes de chegar ao poder federal.
Por falar em PT, o risco que correm os jovens que resolveram levar a luta ao âmbito do Parlamento é o mesmo que corrói o partido hoje no governo no Brasil: distanciar-se da rua, como admite até mesmo seu principal líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em todo caso, a favor da militância eleitoral pesa o difuso desejo de mudança expressado nas ruas em junho e reafirmado agora na mais recente pesquisa do Ibope, em que dois terços dos consultados dizem querer mudanças no governo.
Eis um eleitorado teoricamente predisposto a votar nas e nos Vallejos e Borics brasileiros, ainda mais quando a oposição convencional não conseguiu se transformar na cara da mudança.
Há no Brasil uma aparente contradição em termos: os que dizem querer mudanças votam, não obstante, na continuidade (leia-se Dilma Rousseff).
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