28 de novembro de 2013 | 2h 13
O Estado de S.Paulo
Ao divulgar os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012, o governo destacou o desempenho das escolas públicas federais, cujos alunos obtiveram média de 584,23 pontos, enquanto os estudantes das escolas privadas obtiveram uma média inferior, com 577,39 pontos. As médias levam em conta as notas de redação e de cada uma das quatro competências do exame - linguagem e códigos, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Na prova de redação, os estudantes das escolas federais obtiveram média de 613,07 pontos, enquanto os alunos das escolas particulares registraram uma média de 533,48 pontos.
A forma como os resultados do Enem de 2012 foram divulgados pelo governo passou a ideia de que toda a rede pública de ensino médio teria superado a rede privada, em matéria de qualidade e desempenho escolar. Essa ideia, contudo, é enganosa. As escolas federais apresentaram um bom desempenho, é verdade. No entanto, elas atendem menos de 3% do total de 683 mil estudantes da amostra analisada pelas autoridades educacionais. E, mesmo assim, as escolas federais cujos alunos tiveram bom desempenho no Enem são ligadas a instituições militares e a universidades e unidades de ponta do ensino técnico mantidas pela União. Nos colégios militares, nas escolas de aplicação e no ensino técnico federal, o processo de ingresso de estudantes é tão disputado quanto o das melhores faculdades do País.
Além disso, o balanço do Enem de 2012 divulgado pelo Ministério da Educação foi elaborado com base numa amostra de aproximadamente 11,2 mil escolas públicas e privadas. O MEC deixou de fora do levantamento mais de 14 mil escolas de ensino médio que tiveram participação de menos de 50% de seus alunos.
As escolas federais não são, assim, representativas da situação em que se encontra o ensino médio. Nesse ciclo, 31,51% dos estudantes cursam a rede particular. E 65,5% são atendidos pela rede pública municipal e, principalmente, pela rede pública estadual. Como nos anos anteriores, segundo os números divulgados pelo MEC, as escolas de ensino médio sob responsabilidade dos Estados registraram em 2012 um desempenho bem inferior do que as escolas municipais, particulares e federais nas quatro áreas do conhecimento avaliadas. Em matemática, por exemplo, as escolas estaduais tiveram média de 491,18 pontos. Já as escolas particulares registraram uma média de 615,07. As escolas municipais atingiram 546,73 pontos. E as federais, 625,24 pontos.
Ao divulgar as estatísticas do Enem de 2012, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também fez outros malabarismos numéricos, para tentar extrair conclusões positivas do levantamento. Segundo ele, a nota média dos 215.530 alunos da rede pública com melhor desempenho corresponde ao total de estudantes de escolas particulares que participaram do exame, na amostra analisada pelo MEC. Segundo Mercadante, isso mostraria que o topo da rede pública de ensino médio teve, no Enem de 2012, um desempenho equivalente ao conjunto de estudantes da rede particular. Pelo raciocínio do ministro, essa elite das escolas públicas é competitiva nos exames vestibulares das mais prestigiadas universidades do País. "Os melhores estudantes das escolas públicas competem com o setor privado", afirmou.
O que o ministro deixa de lado, contudo, é que o nível médio dos alunos da rede pública - excluídos os matriculados em colégios militares, escolas de aplicação e algumas unidades do ensino técnico federal - continua muito baixo. Em matemática, por exemplo, a média dos alunos das escolas estaduais subiu de 490 para 491,18 pontos, entre 2011 e 2012 - um aumento inexpressivo de 1,18 ponto. Em ciências da natureza, a evolução foi de 443 para 457,94 pontos.
A pontuação baixa mostra que esses alunos somente conseguirão ingressar no ensino superior por meio das cotas reservadas a egressos da rede pública. E também revela que eles não têm a formação e o preparo necessários para acompanhar os cursos.
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