SÃO PAULO - Depois do prefeito Fernando Haddad (PT), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) resolveu ampliar o número de séries em que o aluno poderá ser reprovado, desfazendo parte da progressão continuada, que já foi bandeira de administrações petistas e tucanas.
Esse é um daqueles temas permanentes. Ele vai e volta à agenda porque há um desacordo original entre o que a maioria das pessoas pensa sobre educação e a já respeitável massa de dados empíricos acerca do que funciona e não funciona. Lamentavelmente, políticos ouvem mais a heurística popular do que a ciência.
As pessoas, especialmente pais, gostam da ideia de repetência porque imaginam que ela assegura que o aluno aprenda o que foi ensinado. Seus conhecimentos são testados de modo objetivo e, se ele não souber o bastante, será retido, garantindo que todos os que concluam seus estudos de fato dominem o currículo.
O problema com esse raciocínio é que ele é desmentido pelos fatos. Ou melhor, pode até ser que valha para o ensino superior e as séries mais altas, mas não funciona no ensino elementar. Um conjunto de metanálises (estudos que comparam dezenas, às vezes centenas, de estudos) mostra que a retenção não apenas não cumpre o objetivo esperado como pode até piorar o desempenho dos estudantes. Vale a pena aqui conferir os trabalhos de Shane Jimerson.
O repetente pode até se sair um pouquinho melhor num primeiro instante, mas esse efeito desaparece em dois ou três anos. No longo prazo, sua performance tende a ser pior do que a de grupos de alunos semelhantes que foram promovidos.
Considerando que a reprovação tem alto custo financeiro (equivalente a 11% do que se investe na rede básica no Brasil) e faz aumentar os índices de evasão escolar, fica difícil defendê-la em termos racionais.
Alguém já afirmou que o problema da democracia é que ela sanciona os piores vieses cognitivos dos eleitores.
Folha de S.Paulo, 16/11/2013
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