13 de fevereiro de 2014

KENNETH MAXWELL ,Águas turbulentas (Brasil)


O Brasil enfrenta águas turbulentas neste ano. Não só por causa dos desafios mais óbvios: sediar a Copa do Mundo, realizar eleições presidenciais, conter o desencanto continuado das ruas, lidar com a violência arbitrária da vida cotidiana, enfrentar os serviços públicos inadequados e os transportes públicos que sofrem de superlotação crônica.
Encarar qualquer um desses dilemas seria difícil no melhor dos momentos. Muitos desses desafios não têm soluções fáceis e existem há muito. Alguns, é claro, resultam de realizações passadas, especialmente da ascensão de uma classe média expandida, cada vez mais impaciente e dotada de novos poderes e de amplo acesso às mídias sociais. Mas essas preocupações são essencialmente internas e os brasileiros cuidarão delas sozinhos.
Um desafio igualmente sério, porém, são as perspectivas incertas para o Brasil no cenário internacional e a capacidade brasileira de navegar em meio à tempestade internacional que está se formando. A vizinhança sul-americana não é um lugar muito confortável no momento. Argentina e Venezuela enfrentam problemas críticos. Mas isso não é grande novidade.
O que é novidade são as consequências para o Brasil do aperto da política monetária norte-americana e da desaceleração no crescimento econômico chinês. Com a alta nas taxas de juros das duas maiores economias do planeta, o capital que fluiu aos mercados emergentes agora os está deixando, e Brasil, Índia e África do Sul se viram forçados a administrar a instabilidade que isso causa em suas moedas e a elevar suas taxas de juros.
Tanto a China quanto o Brasil passaram por booms de créditos. Mas os preços das commodities caíram, depois de atingirem recordes, e a China está tentando controlar seu sistema bancário paralelo. Isso não é nem um pouco fácil. As instituições chinesas de empréstimos obtêm retornos muito maiores no mercado doméstico informal do que no sistema bancário oficial chinês, fortemente regulamentado e com baixos juros. Administrar essa questão pode representar o maior risco.
Mas a expectativa é que a China ainda cresça 7,5% em 2014. E a projeção de crescimento revisada do FMI para os países de alta renda também subiu. Agora, espera-se que os EUA cresçam 2,8% neste ano, e o Reino Unido, 2,4%.


O ponto mais importante é que o quadro econômico mundial está mudando e de maneiras imprevisíveis, o que tem consequências para o Brasil. A questão será se, com os pensamentos concentrados em seus dilemas internos, terá a adaptabilidade, a capacidade e a visão necessárias para enfrentar esse novo mundo. E a resposta a essa questão continua sendo muito mais problemática.
Folha de S.Paulo, 13/2/2014

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