PAULA CESARINO COSTA
RIO DE JANEIRO - Um adolescente de 15 anos foi espancado, deixado nu e atado a poste por um cadeado de bicicleta no Flamengo. Quem o socorreu recebeu ameaças e e-mails dizendo que não deveria ter chamado os bombeiros, mas, sim, cuspido e até ateado fogo nele. No mesmo bairro, 14 jovens foram acusados de tentar agredir rapazes que supostamente poderiam cometer algum crime. Dois disseram que faziam patrulhas para "limpar" a região.
Um jovem, acusado de ser ladrão, disse que foi chutado e preso com barbante por comerciantes de Copacabana. Outros, em Botafogo, foram xingados após perseguição policial.A policial Alda Castilho, 22, morreu com um dos tiros dados contra a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Parque Proletário, zona norte. Operações policiais deflagradas depois já mataram oito. A imagem do sangue na escadaria foi comemorada no Facebook com frases como "bandido bom é bandido morto".
São relatos que criam uma perigosa sensação de insegurança, apesar de os principais índices de criminalidade do Rio estarem hoje muito melhores do que há dez anos. Alguns deles deram, recentemente, soluços perigosos, voltando a subir.
A socióloga Julita Lemgruber alerta para este momento em que a política das UPPs provoca indagações sobre seu futuro e sua sustentabilidade. Yvonne Bezerra de Mello, que ajudou o garoto no poste, vê o caso como "consequência de algo maior, do descrédito nas instituições e do ódio de uma sociedade intolerante".
Manifestações de raiva, violência e preconceito em reação a situações de insegurança não são surpresa. Não se pode ceder a tentações autoritárias e desumanas. É preciso dar resposta aos crimes e aos pseudojusticeiros.
Em ano eleitoral, vislumbra-se cenário de pouca racionalidade e muita debilidade sobre tema fundamental para o futuro do Estado. Não há desenvolvimento sem paz social.
- Folha de S.Paulo, 6/2/2014
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