21 de fevereiro de 2014

RUY CASTRO Fim da infâmia (racism0o no futebol)


RIO DE JANEIRO - Torcedores racistas imitam sons de macacos quando certos jogadores negros tocam na bola. Na semana passada, a vítima foi o atacante Tinga, do Cruzeiro, pela torcida do peruano Real Garcilaso. Em 2013, foi o marfinense Touré, do inglês Manchester City, pela do russo CSKA. Ainda em 2013, foi o italiano de pais ganenses Balotelli, do Milan, ante a do Inter --antes disso, na Croácia, os torcedores locais já lhe tinham jogado bananas. Em 2012, o brasileiro Juan, então no Roma, ante a do também italiano Lazio.
A intolerância vem de longe. Em 2005, outro marfinense, Zoro, do italiano Messina, foi tão insultado pelos torcedores do mesmo Inter que, chorando, tentou abandonar o jogo --e só foi convencido a ficar pelo nosso Adriano. O problema é que atitudes isoladas são inúteis. Há pouco, Balotelli ameaçou sair de campo se voltar a ser insultado --apenas para ouvir de Michel Platini, presidente da UEFA, que, se fizer isto, levará cartão amarelo. Que vergonha.
Não há esporte mais democrático do que o futebol. Todos os clubes possuem jogadores de diferentes idades, nacionalidades, origens sociais, níveis culturais --e etnias. Donde não tem sentido insultar um adversário negro. O clube de quem faz isto também deve ter jogadores negros. E, entre seus torcedores, idem, haverá negros.
Ao ser ofendido, o jogador tenta ou finge ignorar os insultos, para não se desconcentrar do jogo. Mas, e se sua mulher ou família estiver nas arquibancadas? Omitir-se não será um sinal de covardia, fraqueza, submissão? Pois basta isso para que se perca a concentração.
Uma forma de acabar com tal infâmia seria o alto-falante anunciar, logo às primeiras macaquices, que, se aquilo continuar, o jogo será encerrado com a vitória do time do jogador humilhado. Mesmo que esteja 10 x 0 para o dos que humilham.

Folha de A.Paulo, 21/2/2014

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