Parece inócuo discutir os "rolezinhos" de forma isolada e desarticulada, já que as desigualdades estão expressas em outras dimensões
Vivemos a era do excesso de estímulos e do consumo, da exacerbação da percepção e do instantâneo. Os jovens de diferentes classes e segmentos sociais são expostos a uma avalanche de informações mediada pelo discurso dos meios de comunicação e convivem com uma diversidade de recursos visuais e auditivos.
Diferentes estudos têm indicado de que forma esse contexto define novas formas de inserção dos jovens na sociedade contemporânea. Eles querem ter liberdade na busca das aprendizagens que lhes pareçam significativas e adequadas. Procuram colaboração em seus relacionamentos e querem integrar lazer e jogos ao trabalho e aos estudos.
Algumas questões precisam emergir: como jovens moradores das periferias, que passaram a ter acesso a essas informações e valores, vivenciam essas experiências? Qual cidade queremos e quais políticas públicas para as juventudes podem responder a esses questionamentos? As respostas não estão prontas. É necessário profundo conhecimento sobre como as desigualdades se manifestam e um debate amplo para superação desse cenário.
Os "rolezinhos" têm sido objeto de análises e propostas que enfatizam a necessidade de criação de espaços de lazer para a juventude. No entanto, me parece inócuo discutir esse tema de forma isolada e desarticulada, já que as desigualdades estão expressas em outras dimensões.
A articulação das políticas de educação, cultura, saúde, segurança e trabalho, entre outras dimensões, é imprescindível para a efetividade das políticas para as juventudes. Estabelecer conexões entre o local e o global, reconhecer as aspirações e anseios das diversas juventudes que compõem esse segmento e diagnosticar as potencialidades dos territórios são pressupostos.
Ações empreitadas por organizações da sociedade civil podem nos dar valiosos insumos para formulação de políticas. Um dos principais diferenciais está na concepção dos projetos em que os jovens são coautores de ações junto às suas comunidades. Outro aspecto relevante é a apropriação da cidade como central na formação de jovens.
Destaco os programas Jovens Urbanos, coordenado pelo Cenpec; Mundo Jovem, Jovem Comunica e Luteria, da Fundação Tide Setubal; Virando o Jogo, da Fundação Gol de Letra; e Rede Potiguar de Televisão Educativa e Cultural, do Centro de Documentação e Comunicação Popular. São exemplos da possibilidade de se mudar a lógica do "fazer para" para o "fazer com", o que faz toda a diferença.
Aprender com esses projetos significa caminharmos para a construção de uma cidade sustentável e educadora, que requer a instauração de processos de escuta, de participação efetiva de todos os segmentos da sociedade, considerando-se as estratégias proporcionadas pelo advento das tecnologias e das novas formas de participação.
A equação entre a construção de uma nova lógica para a cidade e a integração das políticas da juventude que levem em conta os anseios de liberdade, protagonismo, lazer e o estabelecimento de relacionamentos parece ser o rumo para combater as desigualdades e o preconceito e discriminação delas decorrentes.
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