Bloqueio americano vem se mostrando pouco eficaz em seu propósito de mudar o regime político na ilha
Nas últimas semanas, Cuba deu dois passos importantes e de valor simbólico em seu processo de integração latino-americana e caribenha.
Primeiro foi a cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em Havana, que deu um respaldo político ao governo e garantiu sua aproximação com os países da região.
Nesse período até foram empreendidas ações concretas, como a abertura da primeira fase da zona de desenvolvimento de Mariel, cujo porto de contêineres foi construído com ajuda econômica brasileira.
Dias depois, um clube de beisebol cubano chegou à venezuelana ilha de Margarita para participar da Série do Caribe, evento do qual Cuba foi fundadora em 1949 e do qual foi excluída a partir de 1961, como parte do isolamento do país que tomaria forma definitiva com o bloqueio americano imposto em 1962.
Com esse torneio, o esporte nacional cubano voltava a se relacionar com os rivais da região, selando um fato esportivo e político memorável.
Agora é a vez da revisão das relações da União Europeia com Cuba, mantidas desde 1996 sob o peso da Posição Comum, que condiciona esses vínculos a mudanças na ilha e a uma política mais flexível de direitos humanos.
Essas relações tinham caído para nível ainda mais baixo desde 2003, quando foi suspensa a cooperação com a ilha, após o encarceramento de 75 opositores. Estes foram finalmente libertados em 2010, graças à gestão da Espanha e à mediação da Igreja Católica cubana.
Para superar esse distanciamento, os chanceleres europeus aprovaram um acordo para abrir a negociação bilateral com Cuba, que, espera-se, vai melhorar as relações entre as partes e agilizar seus laços econômicos e de cooperação.
No calor dessa negociação, Washington anunciou a disposição de estudar medidas pragmáticas de aproximação com a ilha, embora tenha advertido que o principal obstáculo continua a ser a sentença que está sendo cumprida em Cuba por Alan Gross, acusado de proporcionar meios de comunicação a dissidentes.
Todas essas fases de aproximação conduzem a uma questão que se evidencia cada vez mais: a possibilidade de um diálogo entre Cuba e Estados Unidos.
A revogação parcial ou total do embargo americano a Cuba --condenado pela comunidade internacional em fóruns das Nações Unidas-- pode ser a conclusão dessas conversações. Por enquanto, porém, parece chegado o momento de dar novos passos em direção a uma normalização das relações.
Enquanto Cuba promove mudanças econômicas, o bloqueio vem se mostrando pouco eficaz em seu propósito de mudar o Estado político cubano. Em contrapartida, demonstra ser um empecilho grande na vida cotidiana dos cidadãos, que têm tido que carregar esse fardo.
Qualquer político sagaz perceberá que, para mudar muitas coisas em Cuba, seria mais produtivo mudar a vida de seus habitantes, e que até agora o embargo tem sido sobretudo um excelente pretexto para não mudar muitas coisas. Cada vez mais, os sinos dobram pelo diálogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário