Exemplo de ex-alunos de uma escola mineira leva a pensar sobre o pouco que retribuímos para a educação pública
Os amigos Bruno, Augusto, Jefferson e Stheffen estudaram no mesmo colégio estadual em Minas Gerais, e hoje frequentam o curso de engenharia mecânica da Universidade Federal de Uberlândia. Quando estavam no ensino médio, eles se destacaram na Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP), mas nunca esqueceram as dificuldades que tinham que superar para se preparar para o exame numa escola pública.
Já na universidade, em 2011, surgiu uma ideia: por que não voltar ao Colégio Estadual Messias Pedreiro para ajudar na preparação dos alunos para a OBMEP? Prontamente aceita, a sugestão foi colocada em prática naquele mesmo ano e, desde então, quando as olimpíadas se aproximam, eles voltam à escola para ajudar professores e estudantes. Ganharam até um apelido: o grupo dos quatro.
Bruno Miranda, de 20 anos, é filho de um pedreiro e de uma diarista. Por sua trajetória, o fato de ter chegado à universidade já justificaria todo o (baixo) investimento que o poder público fez em sua educação. Mas ele e seus amigos achavam que isso não era suficiente. "Quando você estuda em escola pública, fica muito dependente dos professores. Na Messias Pedreiro, eles são ótimos, mas nem sempre têm tempo suficiente para preparar os alunos como gostariam. Quando é possível, acho importante retribuir de alguma maneira, pois quem estuda na escola pública é porque não tem dinheiro para pagar um colégio particular", afirma Bruno.
O exemplo dos quatro amigos de Uberlândia leva a uma reflexão do quão pouco retribuímos no Brasil para a escola pública. No caso da educação básica, o ensino gratuito é direito garantido pela Constituição. Gestos como esse de Bruno e seus colegas são extraordinários, mas o melhor retorno que a sociedade pode ter do investimento neste nível é ver mais e mais alunos como eles aprendendo e avançando na educação.
No ensino superior, no entanto, poderíamos esperar mais gestos de generosidade. A maioria das universidades públicas no Brasil, por exemplo, sequer sabe ao certo se, ou quanto, ex-alunos doaram para as instituições onde, gratuitamente, se formaram. Nos Estados Unidos, são comuns tanto contribuições mais modestas até casos de doações milionárias. Harvard, por exemplo, acaba de receber a maior de sua história: 150 milhões de dólares, do bilionário Kenneth Griffin. No Brasil, infelizmente, temos menos bilionários, e eles não parecem tão generosos quanto os colegas americanos.
Se não prospera muito por aqui a ideia de que devemos contribuir voluntariamente para instituições universitárias onde nos formamos, ao menos deveríamos voltar a debater a cobrança de mensalidades dos que podem pagar. No ensino fundamental, 86% dos estudantes são da rede pública, e a renda média per capita deles, segundo o IBGE, é de R$ 386. No ensino superior público (onde estudam 24% dos universitários), a renda média per capita sobe para R$ 1.189. No entanto, o poder público investe por aluno do ensino fundamental R$ 367 mensais. No ensino superior, esse gasto é de R$ 1.724.
Cobrar dos que podem pagar não significa que nossas universidades públicas se tornarão financeiramente independentes do governo. Longe disso. Mesmo Harvard, que é privada, recebe financiamento significativo do estado americano, principalmente para investimento em pesquisas. O problema no Brasil é que uma mesma parcela das classes média e alta que ataca o Bolsa Família por achar que é simples esmola do Estado para os pobres não se indigna tanto com o fato de seus filhos terem o ensino superior bancado integralmente pelo estado. Se ao menos houvesse no país uma cultura de retribuição a esse investimento público, o discurso seria menos contraditório. Mas nem isso acontece.
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