5 de abril de 2014

Ipea corrige pesquisa sobre abuso contra mulheres


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Na verdade, 26% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que mulheres com roupa curta merecem ser atacadas e não 65%

04 de abril de 2014 | 16h 03

Bruno Ribeiro, Daniel Trielli, Lissandra Paraguassu e Mônica Reolom - O Estado de S. Paulo
Atualizada às 23h03

 - Daniel Teixeira/Estadão
Daniel Teixeira/Estadão
SÃO PAULO - O dado mais comentado do estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a violência contra as mulheres estava errado. Uma semana após a divulgação da pesquisa levar a uma avalanche de reações desde a presidente Dilma Rousseff até a funkeira Valesca Popozuda, o órgão informou que 26% dos brasileiros, e não 65%, concordam, total ou parcialmente, com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". O Ipea é ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
O órgão publicou uma errata, e o diretor do Departamento de Estudos e Políticas Sociais, Rafael Osório, pediu exoneração. Assinou também a nota Natália Fontoura, coordenadora de Igualdade de Gênero do Ipea. Os pesquisadores explicaram que houve uma troca entre os gráficos da questão com a pergunta sobre "mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar".
"A correção da inversão dos números entre duas das 41 questões da pesquisa reduz a dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública", informou o texto. Até mesmo os pesquisadores do Ipea haviam admitido surpresa com o resultado durante a divulgação, no dia 27. Ainda assim, o órgão levou uma semana para descobrir o erro.
O Ipea fez um pedido de desculpas "pelos transtornos causados". "Registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres", afirmou o instituto, na nota. O estudo era o primeiro de opinião feita pelo órgão com ampla repercussão em assuntos de gênero.
O resultado errado foi o que havia causado ampla repercussão no Brasil e também na imprensa internacional. Uma campanha na internet, deflagrada pela jornalista Nana Queiroz, obteve apoio de mulheres e homens de todo o País, incluindo atrizes, atores e outros artistas posando, sem roupa, com cartazes com variações da frase "Eu Não Mereço Ser Estuprada".
A ministra de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, vestida, também participou. Nesta sexta-feira, 4, em nota, a pasta afirmou que "a correção dos dados da pesquisa corrobora o fato de que a sociedade está em processo de mudança no que toca à igualdade de gênero". Mas, também de acordo com a secretaria, é ainda "lamentável o número de pessoas no Brasil que defendem que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’", ao se referir a uma das perguntas, cujo porcentual de concordância, total ou parcial, é de 78,7%.
No Palácio do Planalto, o erro do instituto foi recebido com espanto. Em sua conta no Twitter, na semana passada, Dilma se manifestou sobre o dado equivocado. "A sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher", escreveu. "Tolerância zero à violência contra a mulher", pediu a presidente, que ontem não escreveu nenhum tuíte sobre a falha. Nesta sexta, o posicionamento de Dilma foi feito em sua conta oficial no Facebook e ela afirmou que o novo "dado também é muito preocupante".
Números e erros. Apesar da correção, outro dado impactante foi mantido pelo Ipea: 58,5% dos entrevistados concordaram que, "se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros".
Houve, porém, outros gráficos trocados, segundo o órgão. Neste caso, com duas perguntas semelhantes, sem grande alteração nos resultados. Na frase "O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros", 13,1% discordaram totalmente e 5,9%, parcialmente. Diante da afirmação "Em briga de marido e mulher não se mete a colher", 11,1% discordaram totalmente e 5,3% discordaram parcialmente. Os dados foram divulgados de forma invertida.
Segundo a pesquisadora do Ipea Luana Pinheiro, os erros foram descobertos quando técnicos do instituto começaram a trabalhar com o banco de dados da pesquisa e notaram as inconformidades. "O banco de dados é muito amplo e interessante e continuávamos trabalhando com ele quando notaram o erro", afirmou.
"Logo que o erro foi percebido, houve a divulgação da errata. A nova versão da pesquisa deve estar amanhã (sábado, 5) no nosso site. A elaboração da documentação da errata foi feita assim que o erro foi notado. Não houve demora na publicação da errata", disse Luana. Para o Ipea, entretanto, os erros não alteram as conclusões da pesquisa, que apontam que, para a sociedade, a vítima de estupro tem parte da culpa.
"Infelizmente, as conclusões da pesquisa se mantêm, porque a pesquisa tinha um conjunto de perguntas muito amplo. É importante analisar a pesquisa como um todo. Estatisticamente, quanto à culpabilização da mulher, ainda há uma pergunta que diz que 58,5% das pessoas concordam com a afirmação de que, se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros", justifica Luana.


Una herida grave a la credibilidad de Brasil

Una institución gubernamental reconoce el error de una encuesta que culpabilizaba a las víctimas de violaciones


El error cometido por el Ipea, una institución del gobierno, constituye una herida grave a la credibilidad de Brasil.

Si los brasileños recibieron como un cierto rubor y hasta verguenza el resultado de una encuesta que ponía en evidencia el “machismo” de este país, no deben estar hoy menos preocupados con la credibilidad de los resultados de otros sondeos llevados a cabo por otros institutos, relativos por ejemplo, a las elecciones políticas. ¿Cómo creer en ellos después del patinazo del Ipea, que además ha tardado una semana en reconocer su error?
Brasil fue de alguna forma ofendido en el respeto que merece un país de su importancia económica, política y humana ya que la noticia de que un 65% de sus ciudadanos justificaban la violación de las mujeres que se presentaran en público con poca ropa acabó manchando su imagen.
La noticia que recorrió el mundo -y que ya será difícil de reparar- adquiere ahora una nueva responsabilidad. ¿Con qué respeto serán recibidos de ahora en adelante los resultados de otros sondeos más importantes, por ejemplo, en el ámbito económico y político?
Si la metedura de pata del Ipea ha podido dar motivo dentro y fuera del país para que Brasil sea visto como un país atrasado y anclado en la Edad Media en cuestión de respeto a la mujer, ahora el tema de la credibilidad va más allá. Estamos en un año electoral tenso, con los nervios a flor de piel. ¿Cómo serán ahora recibidos por los ciudadanos y los mercados, por el mundo político, dentro y fuera de Brasil, el bombardeo de encuestas sobre las elecciones presidenciales realizadas por otros institutos de investigación?
La petición para dejar el cargo del director del área social de Ipea se queda muy corta para resarcir la injusticia cometida contra la imagen social y humana de Brasil.
Y una última pregunta que se han hecho ya algunos comentaristas como Reinaldo Acevedo, columnista de Folha de São Paulo: con tantos problemas como están lloviendo sobre este país, en el que está en juego incluso la credibilidad de una empresa de prestigio mundial como Petrobras, ¿era tan urgente que una institución del Gobierno realizara un sondeo sobre las faldas cortas de las mujeres y lo que ellas pueden provocar en los hombres?


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