O quadro negro da educação
04 de abril de 2014 | 2h 08
O Estado de S.Paulo
O Brasil voltou a sair-se mal no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, em inglês), um levantamento comparativo promovido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desde 2000, com o objetivo de medir e comparar o quanto e como os países participantes preparam seus jovens para uma vida adulta produtiva. Há quatro meses, a entidade divulgou a classificação geral da edição de 2012, mostrando que, num ranking de 65 países, o Brasil ficou na 55.ª posição em leitura, no 58.º lugar em matemática e na 59.ª colocação em ciências. A diferença em relação aos alunos mais bem classificados - da província chinesa de Xangai - foi de mais de 200 pontos, o equivalente a cinco anos escolares.
Com base no mesmo levantamento, a OCDE agora está divulgando um estudo específico sobre a capacidade dos estudantes de resolver problemas práticos da vida cotidiana e, num ranking de 44 países, o Brasil ficou na 38.ª colocação - à frente apenas da Malásia, Emirados Árabes Unidos, Montenegro, Uruguai, Bulgária e Colômbia. Os estudantes de Cingapura, da Coreia do Sul e de algumas províncias chinesas ficaram nas primeiras posições do ranking, seguidos por canadenses e europeus.
A amostra é de alunos de 15 anos matriculados nas séries correspondentes à sua idade - o final do ensino fundamental e o início do ensino médio. Aplicado a cada três anos, o Pisa testa os conhecimentos das três disciplinas escolares básicas - linguagem, matemática e ciências - de mais de 500 mil alunos nessa faixa etária, em 34 países considerados desenvolvidos e em outros 31 convidados, como é o caso do Brasil. Os testes são formulados para aferir habilidades essenciais para o sucesso dos alunos na escola, no mercado de trabalho e na vida econômica. A edição de 2012 do Pisa enfatizou, basicamente, a matemática.
Segundo o estudo divulgado esta semana, enquanto a média dos alunos dos países da OCDE ficou em 500 pontos, a dos brasileiros foi de 428 pontos. O relatório também mostra que 47,3% dos estudantes brasileiros tiveram um desempenho ruim, ficando na última categoria, a dos chamados "poor performers", e apenas 1,8% conseguiu solucionar problemas de matemática complexos, integrando o grupo de elite - o dos "top performers". Esses números mostram que a maioria esmagadora dos estudantes brasileiros sai do ensino fundamental sem saber o mínimo necessário para resolver questões simples do dia a dia.
Em comparação, na Coreia do Sul, 27,2% dos estudantes ficaram na categoria "top" e apenas 6,9% na categoria "poor". Na América Latina, o país que alcançou resultados mais expressivos foi o Chile, com menos estudantes do que o Brasil nas categorias mais baixas, mas sem formar um número significativo de alunos capazes de integrar o pelotão de elite.
O estudo sobre a capacidade dos estudantes de lidar com informações e problemas práticos da vida cotidiana só confirma o que a OCDE havia apontado no relatório geral divulgado em dezembro. Segundo ele, 2 em cada 3 alunos brasileiros de 15 anos não conseguem interpretar situações que exigem somente deduções diretas de uma informação dada, entender porcentuais ou frações e usar informações de uma tabela ou de um gráfico para calcular uma média ou tendência.
Estudos comparativos da qualidade internacional da educação são importante fonte de informações para a elaboração de diagnósticos, definição de prioridades e formulação de políticas públicas. Desde a criação do Pisa, muitos países utilizam seus resultados para reformar seus sistemas de ensino. É o caso da Polônia, que ganhou posições nas últimas avaliações, depois de ter investido em educação básica e formação de professores. Em contraste, o Brasil ainda não conseguiu aprovar o Plano Nacional de Educação, que define as metas que o País deve atingir entre 2010 e 2020. A tramitação é tão morosa que o plano corre o risco de ser aprovado nos anos finais de sua vigência. Isso mostra por que o Brasil tem ficado nas últimas colocações nos rankings do Pisa.
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