De Inca Kola a ceviche, no novo livro do prêmio Nobel peruano, que chega às livrarias amanhã, a comida protagoniza um roteiro
FERNANDA MENEGUETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHADepois de 15 anos, as duas cidades onde se criou Mario Vargas Llosa, a capital Lima e Piura, no norte do Peru, voltam a protagonizar um de seus romances. Assim como alguns de seus antigos personagens, caso do sargento Lituma e de Don Rigoberto.Em "O Herói Discreto", que chega amanhã às livrarias, o prêmio Nobel não narra grandes feitos, mas traz o Peru de hoje e suas lutas cotidianas, como as travadas contra a ambição e a chantagem.
Aparecem também referências a comidas e restaurantes do dia a dia. Afinal, Vargas Llosa já inaugurou escola de gastronomia e afirmou que, se o país tivesse empresários como Gastón Acurio, teria deixado o subdesenvolvimento. Acurio é embaixador da cozinha peruana, chef do Astrid y Gastón (considerado o melhor da América Latina pela revista britânica "Restaurant") e de outras 37 outras casas ao redor do mundo.
Em 2009, o escritor publicou um artigo no jornal espanhol "El País" em que comparou o ceviche a Machu Picchu.
"Se alguém tivesse me dito há alguns anos que um dia ia ver organizarem-se no exterior viagens turísticas gastronômicas' ao Peru, eu não teria acreditado. Mas aconteceu e desconfio que os chupes de camarão', os piqueos', a causa', os ceviches' (...) trazem agora ao país tantos turistas como os palácios coloniais e pré-hispânicos de Cusco e as pedras de Machu Picchu."
Confira ao lado roteiro com as dez melhores referências culinárias da obra.
O HERÓI DISCRETO
AUTOR Mario Vargas Llosa
TRADUÇÃO Paulina Wacht e Ari Roitman
EDITORA Alfaguara
QUANTO R$ 39,90 (342 págs.)
EL CHALÁN
Confeitaria tradicional da região de Piura serve sobretudo sorvetes e raspadinhas de frutas --tamarindo, melancia e lúcuma são os mais famosos. Os personagens principais passam por ali. Para o personagem Felícito Yanaqué, a cremolada de frutas "é uma tentação".
ONDE (Plaza de Armas 520/526, Centro, Piura, tel. 00/xx/51/073306483)
RODOVIA PANAMENHA
No quilômetro 50, que fica no norte do país, tem "casarios onde os motoristas de ônibus, caminhões e vans paravam para tomar um caldinho de galinha, um café, uma cuia de chicha (bebida alcoólica derivada da fermentação de milho) e comer um sanduíche antes de enfrentar a longa e tórrida travessia do deserto de Olmos". É onde fica a barraca de charque e refrescos da personagem Adelaida. Segundo Felícito Yanaqué, ela é uma santeira que não parecia religiosa, uma bruxa que não fazia bruxarias, uma adivinhadora que, de vez em quando, exercia o ofício a amigos, sem nada cobrar.
ROTARY CLUB
Em Piura, ele existe há 86 anos. Hoje, algumas reuniões acontecem nas salas de convenções do hotel Costa del Sol. No romance, é citado por ter bons coquetéis de algarrobina, isso é, drinques com xarope de alfarroba, cujo sabor lembra o de chocolate, e pisco.
ONDE Hotel Costa del Sol (av. loreto 649, Centro, Piura, tel. 00/xx/51/73302864)
HOTEL ORO VERDE
Apenas na ficção, o restaurante fica dentro do hotel, na zona de El Chipe. Serve ceviche de conchas negras (marisco típico do norte do Peru) e seco de chabelo.
CLUBE GRAU
Fora do livro, trata-se d'El Club Atlético Grau, patrimônio desportivo de Piura, com 94 anos. Ali, o personagem Felícito Yanaqué afirma ter combinado o show da cantora Cecilia Barraza a uma "opípara refeição com vinho branco e tinto".
ONDE av. Los Cocos, 120, Piura, Urbanización Club Grau, tel. 00/xx/51/073306865
EL PIE AJENO
Embora o "barzinho" em si não exista, ele faz alusão aos pies ajenos, os burros de carga que desapareceram das ruas de Piura. Vargas Llosa dedicou uma coluna ao tema no jornal "La Republica" em 11 de março de 2012.
LP LOS PORTALES PIURA HOTEL
O hotel de arquitetura colonial foi recentemente renovado e é um dos mais célebres e elegantes da cidade. Vai soar engraçado, mas é o único que tem "valet parking"! Em seu restaurante, don Rigoberto pede um seco de chabelo (semelhante a um picadinho com banana verde e pimentas variadas) sob a alegação que é o prato típico de Piura. Sua mulher pede corvina grelhada com salada mista; o filho Fonchito, ceviche. Os três tomam limonada com "muito" gelo e pedem sorvete de sobremesa.
ONDE Libertad, 875, Centro, Piura, tel. 00/xx/51/073328783
CLUBE NACIONAL
Ali, don Rigoberto não resistiria à tentação do enorme bife empanado em tacu-tacu (mistura de arroz e feijão). O clube existe desde 1855 e é o mais exclusivo do Peru: convidados dos sócios (todos homens) podem frequentá-lo e, quiçá, provar um dos melhores ceviches da capital.
ONDE Jardín de La Union 1016, Plaza San Martín, Lima, tel. 00/xx/51/13302366
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