Pesquisa do ano passado Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: violência e convivência nas escolas aborda as relações sociais nas escolas do Distrito Federal e indica, entre outros achados, que 74,9% dos alunos entrevistados (uma amostra de 10 mil estudantes e de 1.500 professores) observaram agressões verbais em suas escolas; e 69,7% dos alunos e 71,1% dos professores afirmaram ter visto agressão física no espaço escolar. Os pesquisadores, baseados nesta e em pesquisas nacionais anteriores, não têm dúvidas de que os resultados obtidos em Brasília refletem uma realidade nacional (a qual, sabe-se por outras fontes, também é internacional).
Quanto à ciberviolência, o estudo revela que mais de um terço dos alunos ouvidos (36,5%) já sofreu, e 17,3% afirmam já ter praticado esse tipo de agressão. Com relação aos professores, 5,3% deles já foram xingados por algum aluno na internet, e 4,7% tiveram fotos suas divulgadas por alunos sem autorização. Curiosamente, são poucos os profissionais de educação que apresentam conhecimento suficiente sobre como orientar os estudantes quanto ao uso mais seguro e conveniente da rede mundial de computadores.
Se as violências nas escolas incluída a ciberviolência têm recebido tanta atenção da imprensa, esse é mais um claro indicativo da urgência de se tomarem medidas para enfrentar e coibir o problema. Professores, gestores escolares, formuladores de políticas públicas, temerosos e preocupados, não podem furtar-se ao compromisso de promover estratégias, métodos e medidas que protejam o ambiente escolar e estimulem melhor convivência entre todos. Se a família e a escola não dão o exemplo, o castigo recai sobre toda a sociedade.
Diante dos diagnósticos mais recentes e mesmo do noticiário, alguns pais talvez temam pelo futuro de seus filhos nas escolas. No entanto, está justamente nas instituições de ensino grande parte da solução para o problema das violências entre estudantes. Afinal, o meio escolar tem papel crucial no estabelecimento de práticas que estimulem a convivência pacífica entre indivíduos.
A escola pode, ainda, comprometer-se com a desconstrução de um imaginário social que associa diversas violências às noções de virilidade e de masculinidade, evitando que essa simbologia viril imprima às agressões o caráter de afirmação de identidade tanto de garotos quanto de garotas. É preciso, enfim, oferecer aos jovens estudantes formas alternativas de reconhecimento social. Afinal, uma vez no mercado de trabalho, não poderão resolver conflitos à base de socos, pontapés, gritos ou puxões de cabelo. Convém que aprendam a comportar-se o quanto antes.
Miriam Abramovay, socióloga e pesquisadora, é coordenadora da pesquisa Convivência Escolar e Violências nas Escolas da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), entre outras atividades. http://miriamabramovay.com
Jorge Werthein, doutor em Educação pela Stanford University, ex-representante da Unesco no Brasil, é vice-presidente da Sangari Brasil. http://jorgewerthein.blogspot.com
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