Para 90,1% dos brasileiros, violência está aumentando no país
O tipo que mais incomoda é a dos bandidos, seguida pela familiar, no bairro, no trânsito e nas escolas
BRASÍLIA - A violência está aumentando no país, na avaliação de 90,1% dos brasileiros. A constatação é de pesquisa inédita feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) sobre os valores mais importantes para a população. O tipo de violência que mais incomoda quem vive no país ainda é a dos bandidos, apontada por 56% dos entrevistados. Para 23%, o pior tipo de violência é a familiar, seguida da violência no bairro, no trânsito e nas escolas.
"Mesmo que só existam estatísticas de homicídio e crimes, há outros tipos de violência que as pessoas revelam. E essa percepção da violência é um dado importante, porque é o que as pessoas vivem, o critério que utilizam para decidir se vão sair de casa ou não, fazer uma coisa ou outra", explicou o economista sênior do Pnud e coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil, Flávio Comim.
Além da percepção da violência, o Pnud avaliou a relação entre os valores considerados importantes pelos brasileiros e a educação. Para 77% das pessoas, a família é mais importante para o desempenho dos estudantes do que a própria escola.
A relevância do chamado "efeito família" na educação mostra que a escola tem perdido credibilidade como formadora de valores. No entanto, na hora de apontar as causas para o problema, há um jogo de empurra-empurra, que leva professores a acharem que o problema é dos pais e vice-versa.
De acordo com o levantamento, os brasileiros acreditam que, além da relação direta com o aumento das possibilidades de emprego, a educação pode ajudar a resolver problemas como a violência, a corrupção e a falta de respeito na sociedade.
Segundo Comim, as preocupações dos brasileiros reveladas pela pesquisa apontam a necessidade de políticas cada vez mais integradas para resolver os problemas sociais do país. "É preciso aumentar a integração entre políticas, entre a vida e a escola e a vida e a casa. Melhorar só as escolas sem política da mesma dimensão para o apoio as famílias e medidas para a segurança não resolve o problema da violência na escola, por exemplo", avalia.
Os resultados do Perfil dos Valores Brasileiros (PVB) farão parte do Relatório de Desenvolvimento Humano 2009/2010, que o Pnud deve lançar em agosto. Pela primeira vez, os valores dos brasileiros serão considerados na sugestão de políticas públicas de desenvolvimento para o país.
Brasileiros valorizam bem-estar do próximo e estabilidade social
A pesquisa inédita do Pnud descobriu apresentou ainda que o bem-estar do próximo e da humanidade e a estabilidade social são os valores mais importantes para os brasileiros. Os resultados mostram que, pelo menos no discurso, o "jeitinho brasileiro" pode estar perdendo espaço para características como a honestidade e a lealdade.
Mas a grande surpresa do levantamento foi a estabilidade social, apontada como o terceiro valor mais importante, à frente da autonomia e do êxito pessoal. "É um elemento novo. Em levantamentos semelhantes, [a estabilidade social] costumava aparecer em sétimo lugar", compara o economista e coordenador do relatório, Flávio Comim.
A justificativa para a estabilidade social ser um valor importante para os brasileiros pode estar na estabilidade econômica - que já permite o planejamento material, deixando para trás a preocupação com a inflação. Também pode ser explicada por um fator negativo: a falta de credibilidade em algumas instituições e o medo de que elas falhem.
De acordo com a pesquisa, as mulheres e os mais velhos são os mais que mais prezam valores como o bem-estar do outro, a tradição e a segurança. Do lado oposto, estão os homens jovens, que dão mais importância a valores como o poder, a realização e o prazer.
O levantamento, que ouviu 4 mil brasileiros em mais de 300 municípios, também traça perfis de valores de acordo com a inserção no mercado de trabalho, filhos e a escolaridade. Quem trabalha tende a valorizar mais a abertura a mudanças, relacionada à independência, à liberdade e à ambição. "Pessoas com filhos ficam mais conservadoras, dão menos importância a valores de autopromoção", acrescenta Comin.
Um dado revela que a educação das mães influencia a escolha de valores importantes para os filhos. Quanto maior a escolaridade da mãe, mais autônomo e aberto a mudanças é o filho. A pesquisa também avaliou quais os valores mais importante para os brasileiros de acordo com a região em que vivem. Os que vivem no Sudeste e no Centro-Oeste são os mais preocupados com o bem-estar da natureza, o chamado universalismo. No Nordeste, a segurança, a determinação e a conformidade são os valores mais admirados. No Sul, a realização é o valor principal.
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