Pesquisa comprova discriminação nas escolas
Mais de 96% de envolvidos com setor têm algum preconceito contra pessoas com necessidades especiais
Adauri Antunes Barbosa
SÃO PAULO. Em geral, 99,3% das pessoas envolvidas nas escolas brasileiras - alunos, professores, diretores, profissionais da educação e pais - têm alguma atitude preconceituosa. O tipo de preconceito mais comum nas escolas é contra as pessoas com necessidades especiais, admitido por 96,5% dos 18,6 mil entrevistados em pesquisa feita em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
As outras seis atitudes preconceituosas admitidas na pesquisa são comuns também em outros países, como reconhece a ONG Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação, que promove esta semana, em São Paulo, debate sobre discriminação na educação. Segundo a ONG, na América Latina e Caribe, sua área de atuação, apenas de 20% a 30% das crianças com deficiência frequentam a escola.
O relator da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo Direito à Educação, Vernor Muñoz, disse que a discriminação na escola é reflexo da realidade social, que rechaça a diversidade, e consequência da falta de políticas contra as desigualdades.
Ontem, ao participar de debate com representantes de ONGs que defendem o direito à educação para portadores de deficiências, afrodescendentes e nas prisões, Vernor Muñoz disse que a discriminação é um dos mais graves obstáculos à realização plena do direito à educação. O preconceito contra pessoas portadoras de necessidades especiais, o mais comum nas escolas brasileiras, para ele é resultado de "uma educação utilitarista":
- A educação se caracterizou por responder a uma necessidade de produção. Essa educação utilitarista quer produzir um, digamos, conhecimento útil para a sociedade. Ou seja, a educação prepara as pessoas para as relações de mercado.
A professora Cláudia Werneck chamou atenção também para o custo da discriminação: - A resposta objetiva para a questão de quanto custa a discriminação está nesses orçamentos. A gente diz "É muito caro!" quando recebe um orçamento que contempla a linguagem de libra ou braile. Esse "muito caro" significa de 20% a 30% a mais. Esse é o preço da discriminação.
Para a especialista Analu Silva Souza, a discriminação da população afrodescendente é evidente diante dos dados estatísticos disponíveis.
- A população negra ocupa poucos espaços. Temos inúmeras leis que tratam do tema. Agora, é preciso lutar para que sejam levadas à prática - disse Analu, lembrando que, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), nas pessoas com 25 anos ou mais que concluíram o ensino superior no Brasil há cinco vezes mais brancos que pretos e pardos.
A professora Mariângela Graciano, que tratou do direito à educação nas prisões, citou números oficiais que dão conta da existência de 469 mil pessoas encarceradas no país.
Desse total, 56,6% são negros, 67% não concluíram o ensino fundamental, e apenas 10% estão estudando.
- Há uma grande confusão sobre o que é educação na prisão. Qualquer curso, até palestras, é considerado educação. Qualquer atividade que ocupe as mãos se transforma em educação. As atividades educacionais devem se adaptar ao modelo - relatou Mariângela.
O globo
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