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GUILHERME GOULART
O combate ao bullying no Distrito Federal é feito dentro da sala de aula. Iniciativas das redes de ensino pública e particular candangas revelam que não existem tabus nos debates e ações promovidos para debelar o problema. A Secretaria de Educação do DF, por exemplo, criou conselhos de segurança nas escolas públicas como estratégia para identificar e minimizar as mais diferentes formas de violência praticadas no ambiente escolar. Entre elas, as humilhações e provocações praticadas entre crianças e adolescentes.
Esses conselhos contam com a participação de diretores, professores, orientadores educacionais, pais e estudantes. Em 305 das 600 instituições públicas na capital do país, os grupos já foram instalados. Os conflitos existem nas escolas. É objetivo dos conselhos fazer a mediação deles e discutir estratégias. Uma das atribuições é justamente identificar o bullying, uma violência que ocorre entre iguais. Ou seja, de aluno para aluno , explica a subsecretária da Educação Integral da Secretaria de Educação do DF, Ivanna Sant Ana Torres.
Reuniões, debates e palestras sobre o tema ocorrem com frequência nos colégios em que os conselhos estão em funcionamento. O trabalho dos grupos também se faz em parceria com outros agentes públicos, como a Polícia Civil, a Polícia Militar e a Secretaria de Saúde do DF. Esse tipo de problema deve ser trabalhado em casa e na sala de aula. Por conta disso, acho que não somos a capital brasileira do bullying, como diz a pesquisa do IBGE. Talvez sejamos a unidade da Federação que mais discute o assunto e, assim, conhecemos mais o termo , avalia Ivanna.
O Centro de Educação Infantil (CEI) 210 de Santa Maria aparece como uma das instituições públicas do Distrito Federal com o conselho de segurança estruturado. As reuniões do grupo ocorrem às quartas-feiras à noite, nas dependências do próprio colégio. A diretoria, os professores e os orientadores educacionais trabalham diretamente com os pais os problemas dos filhos, como dificuldades na fala, sexualidade e limites. Mas também combatemos o bullying, que existe na educação infantil , explica a diretora do CEI 210, Lidi Ane Oliveira Nascimento.
Um dos casos recentemente discutidos e trabalhados pela escola é o de um menino de 4 anos. O garoto tinha dificuldades em conviver com negros, além de evitar objetos de cor preta. A orientadora educacional Ione Patrícia Ferreira ajudou a contornar a situação a partir do desenvolvimento de várias atividades. Segundo os professores e os diretores, a intervenção e a mudança de comportamento da criança ocorreram antes mesmo de os colegas negros se sentirem rejeitados ou excluídos. O resultado foi percebido em uma festinha, na qual o garoto dançou com uma professora que pintou o rosto com tinta preta.
Em Santa Maria, a Diretoria Regional de Ensino (DRE) prevê palestras sobre o bullying em todos os colégios da cidade. Mas também admite dificuldades nas unidades que abrigam muitos alunos, como é o caso da escola de ensino fundamental onde os alunos do 6º ano se tornaram alvos dos mais velhos. O bullying exige intervenções constantes. E o trabalho de prevenção precisa ser desenvolvido desde a educação infantil, e sempre dando atenção aos pais , afirma a chefe do Núcleo de Monitoramento Pedagógico da DRE de Santa Maria, Flávia Maria Barbosa.
Atenção aos sinais
Especialistas e educadores concordam que pais e professores devem ficar atentos aos primeiros sinais de bullying. Desculpas para faltar às aulas, pouca motivação nos estudos e pedidos repentinos de mudança de sala podem revelar o problema (leia arte). Segundo Flávia Barbosa, quem sofre e quem pratica as brincadeiras abusivas e repetitivas têm perfis parecidos. As vítimas são normalmente os mais tímidos e mais pacientes. Os que praticam têm perfil de liderança, às vezes são mais fortes do que os demais , descreve.
Para a socióloga Miriam Abramovay, o bullying é mais um dos fenômenos graves que ocorrem nas escolas do Brasil. Enquanto o termo virou conceito por conta de um estudo realizado na Noruega, no Brasil, explica a especialista, as relações de conflito ultrapassam as agressões verbais e ameaças. Classificamos três tipos de violência nos ambientes escolares brasileiros. Vão desde aquelas previstas no Código Penal até as que ocorrem no cotidiano, como um bate-boca, a pichação e o racismo , detalha a coordenadora de pesquisa da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla).
As dificuldades da vida escolar do país são descritas no livro Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas, publicado pela própria Ritla em 2009. Além de Miriam, assinam a publicação Anna Lúcia Cunha e Priscila Pinto Calaf. Esses conflitos são problemas sociais e não individuais. O que temos de entender é que eles prejudicam a qualidade do ensino. É preciso adotar políticas públicas para solucionar essa problemática , defende a socióloga, que estuda o assunto há cerca de 10 anos.
Denúncias
O bullying no DF também recebe atenção das escolas privadas. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) faz treinamento e capacitação de educadores há oito anos. A entidade também organiza palestras. Foram quatro no ano passado em centros de ensino localizados fora do Plano Piloto. Estamos extremamente atentos. Não fazemos de conta que o tema não existe. As crianças devem ter informação até para poder denunciar , alerta a presidente do Sinepe-DF, Amábile Pácios.
O incentivo às denúncias aparece no site do sindicato, responsável pela publicação de dois livros sobre o assunto. Na página inicial, há um cartaz da campanha do Disque 100, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Os atendentes recebem a comunicação de casos de violência contra crianças e adolescentes, como agressões físicas, verbais, psicológicas e morais e os repassam para os representantes do MP e do Conselho Tutelar da região. Não é preciso se identificar.
Caso de polícia No mês passado, uma adolescente de 12 anos registrou ocorrência na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) por estar sofrendo bullying no Centro de Ensino Fundamental 24, em Ceilândia. Ela recebeu um apelido pejorativo dos colegas e a situação ficou fora de controle, chegando até a comunidade. Na época, a escola orientou a jovem a registrar o caso na polícia. Segundo o delegado Francisco Antônio da Silva, a ocorrência é curiosa por ser o primeiro caso nesse sentido apurado pela DCA.
Nesse mesmo centro de ensino de Ceilândia, localizado na QNQ 3, foi registrado neste ano outro caso de bullying. De acordo com o supervisor pedagógico do colégio, João Batista de Oliveira, trata-se de cyberbullying. Tivemos problemas entre alunas que se ameaçavam e se xingavam nas redes sociais , explica. O supervisor disse que a questão foi resolvida após uma conversa entre as meninas. Agora, uma das envolvidas até está participando dos programas de conscientização , comemora.
Peça de teatro
João de Oliveira lembra que, no ano passado, a escola promoveu uma série de palestras e atividades voltadas para o combate à prática de bullying e cyberbullying. Recebemos o programa Superação Jovem, da Fundação Ayrton Senna, que propõe que seja trabalhado o protagonismo juvenil. Vieram vários projetos e, entre as propostas, surgiu a discussão do bullying.
Pesquisas com professores, alunos e servidores foram feitas antes de o programa ser realmente produzido. Os alunos prepararam uma peça de teatro. Na época, a situação ficou resolvida. Mas este ano já tivemos dois casos , lamenta. Depois do cyberbullying e do caso que foi parar na polícia, a escola reativou o programa.
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Miriam Abramovay Rede de Informação |
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