Tânia Monteiro/At
BRASÍLIA - A violência existente no Brasil foi classificada como "bastante grave" em comparação com o cenário internacional, ocupando o sexto lugar entre os países mais violentos. A informação foi dada nesta semana pelo secretário-executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Luiz Alberto Salomão, em palestra durante seminário no QG do Exército, intitulado Segurança Internacional: perspectivas brasileiras.
Para Salomão, a violência é um dos fatores de vulnerabilidade à segurança interna e ao atual desenvolvimento brasileiro. Na tabela apresentada durante o seminário, Salomão, com base em dados colhidos entre 2004 a 2007, mostrou que o Brasil é um país quatro vezes mais violento que os Estados Unidos (27º lugar), e está, neste quesito, atrás da Guiana (9º), do Paraguai (12º), da África do Sul (16º), do México (19º), do Chile (28º), da Argentina (32º) e do Uruguai (35º).
Entre os mais violentos, de acordo com o Mapa da Violência do Brasil, edição 2010, cujo estudo é assinado por Júlio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisas do Instituto Sangari, que engloba mais de 200 países, El Salvador está à frente, como o mais violento, com taxa de 50,1 homicídios por 100 mil habitantes. El Salvador é seguido da Colômbia, com 45,4 mortes; da Guatemala, com 34,5; Ilhas Virgens (EUA), com 31,9 mortes/100 mil habitantes; a Venezuela, com 30,1; e o Brasil, com 25,8 homicídios por 100 mil habitantes.
Ao descer aos detalhes dos problemas de violência nos Estados do Brasil, Alagoas, Espírito Santo e Pernambuco saem à frente em número de crimes no país, com números que são quase o dobro da média nacional. Dados de 2007 apontam que, em Alagoas, por exemplo, ocorreram 59,6 mortes por 100 mil habitantes, enquanto que, no Espírito Santo, foram 53,6 e em Pernambuco, 53,1 homicídios por 100 mil habitantes. Santa Catarina é o Estado menos violento, com 10,4 mortes por 100 mil habitantes; São Paulo, tem uma vez e meia a mais, sendo 15 mortes, por 100 mil habitantes; Minas Gerais tem 20,8; e o Rio de Janeiro, 40,1 homicídios por 100 mil habitantes.
Depois de lembrar que o Brasil alcançou nos últimos anos "patamar inédito" na sua história, mas sem fazer discurso ufanista, recorrentes na pré-campanha eleitoral que o governo vem fazendo, destacando os feitos nos últimos sete anos de administração, em prol das comunidades carentes, Salomão não fala só da questão da violência em seu discurso, ao tratar das vulnerabilidades do atual desenvolvimento brasileiro. Ele diz que "falta consenso" quando se trata de ordenar as prioridades e de conceber e por em prática políticas capazes de superá-las. No que chama de "front interno", o secretário-executivo da SAE lista como dificuldades para superar as vulnerabilidades as "desigualdades extremas" entre regiões, etnias e gêneros, cita a degradação ambiental em diversos biomas e o aumento da violência e da criminalidade.
No front externo, ele destaca a dificuldade de vigiar e proteger o território, espaço aéreo, o mar territorial e a zona econômica exclusiva, lembra o hiato tecnológico que nos separa dos países mais avançados, fala da vulnerabilidade ideológica e política. Fora isso, destaca como fragilidade também "o desconhecimento de grande parte do território onde devem estar localizadas potencialidades até aqui ignoradas em matéria de recursos minerais, energéticos e de biodiversidade".
Ao se referir à vulnerabilidade da segurança interna, o secretário-executivo da SAE, declarou que "a violência, na escala que vem sendo praticada no Brasil, nasce, principalmente, dos conflitos provenientes das desigualdades sociais e das atividades do chamado crime organizado, que se aproveitam da ausência do Estado nas comunidades carentes, para nelas assentar as suas bases". Prossegue ainda salientando que, "amplas áreas desprovidas de serviços mínimos de urbanização, déficits quantitativos e qualitativos de educação, saúde, lazer e transporte, ausência de políticas pública favoráveis à geração de emprego e renda - tudo veio se somando para produzir safra de violência que temos colhido nos últimos anos".
O secretário-executivo da SAE, ao destacar as principais vulnerabilidades no plano externo, lembra que o gasto militar no Brasil representa apenas 1,5% do seu PIB. Para ele, o fato de o Brasil ser um país pacífico e viver em harmonia com seus vizinhos, "nem por isso se justifica a profunda desatualização de nosso aparato de defesa ou a eternização de sua dependência tecnológica". Salomão encerrou destacando a necessidade de se ampliar o conhecimento do território nacional. "Ao final de 2010, a Amazônia, que representa cerca de 60% da superfície do País, terá apenas 47% de sua área mapeada na escala 1:250.000", disse ele, ao comentar "o baixíssimo grau de conhecimento da região. Acrescentou ainda que, as regiões não amazônicas, ao final de 2010, ainda faltará cobrir 25% do território com mapeamento na escala 1:100.000".
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