As meninas também podem utilizar armas. Algumas picham nas ruas e cometem até homicídios |
Participação ainda é vista com desconfiança, mas muitas cometem crimes
C ada vez mais ousadas, as jovens do Distrito Federal passaram a desempenhar papéis importantes nas gangues em que atuam, cometendo crimes que vão desde a pichação até os homicídios. Em um estudo inédito, pesquisadores mapearam a participação destas meninas, muitas delas ainda na adolescência, entrevistando 73 membros de 13 gangues escolhidas por sua influência nas comunidades.
O levantamento, que consumiu mais de 150 horas de entrevistas, feito entre os anos de 2007 e 2010, revelou que as mulheres podem, igualmente, ter atitudes consideradas pelos colegas de grupo como de coragem e lealdade, embora exista certa resistência e mesmo desconfiança em relação à capacidade feminina de exercer essas funções dentro das gangues.
Coordenado pela pesquisadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), Mírian Abramovay, o estudo apontou que, apesar de terem uma presença mais efetiva, algumas mulheres ainda são depreciadas nos grupos, desempenhando funções que, na gíria das ruas, ganham diversas nomenclaturas. Entre elas estão as chamadas "fazedoras de casinha", que atraem membros das gangues rivais por meio da sedução, facilitando uma emboscada.
PERFIL
As mulheres ainda podem ser estigmatizadas e chamadas de "cabritas", que quer dizer traidora. Existem também as "pés de pano", que se envolvem amorosamente com os namorados de outras meninas. Dentro do mesmo nicho, as jovens apontadas pelos integrantes das gangues como "marias jets" costumam ser conhecidas por estarem nos grupos para se relacionarem apenas com os líderes das facções.
De acordo com a pesquisadora, são raras as mulheres que fazem parte dos grupos que saem durante a noite para pichar. "Há certa desvalorização das letras das meninas, uma espécie de atribuição de incapacidade de pichar à maioria das integrantes do sexo feminino", explicou Mírian Abramovay. Ela completa que, em geral, a participação feminina aparece como estratégia masculina para afastar a suspeita por parte de policiais que podem estar rondando a área no momento em que os locais são pichados.
RESISTÊNCIA
Alguns líderes e integrantes das gangues concordaram que a participação das mulheres no grupo tem crescido com o passar dos anos. Entretanto, ainda existe uma certa resistência quanto à colocação hierárquica das jovens. "Sempre quem comanda são os homens. A relação da gente é bem machista mesmo, não vai mudar não", contou um membro de uma das facções ouvido durante o trabalho de campo feito pelos pesquisadores.
Outros rapazes que pertencem às gangues comentam que muitas jovens costumam permanecer nos grupos por um curto período de tempo. "A vida das meninas é diferente. Tem uma que trabalha, outras que andam com a gente pra entrar na vida louca. Tem uma que o dia a dia é roubar também, do mesmo jeito que a gente, que ganha dinheiro da mesma forma", explicou outro jovem ouvido ao longo das entrevistas feitas em diferentes cidades do DF. Em alguns casos, as mulheres acabam assumindo atribuições como o acerto de contas, se envolvendo em brigas violentas nas ruas ou até em mortes.
SAIBA+
Durante o estudo, ficou claro para os pesquisadores que não existe mais apenas uma gangue dominando um território específico. Integrantes das facções foram encontrados atuando em diversas cidades do DF mAo todo, foram entrevistados membros das gangues LUA (Legião Unida pela Arte); GSL (Grafiteiros Sem Lei);ENF (Escaladores Noturnosda Favela); AG (Anjos Grafiteiros); GDF (Grafiteiros doDistrito Federal); GAP(Guardiões da Arte Proibida);ET (Esquadrão Terrorista); ECK(Escaladores da CaligrafiaKriminosa); OLS (OrganizaçãoLegião Satânica); SDM (Só DeMenor); GSN (Grafiteiros Sanguinários Notunos); GNT (Grafiteiros Noturnos e Traficantes); SLK (Seguidores da Lei do Krime) Não foi dimensionada a participação feminina nestes grupos.
Jornal de brasilia
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