9 de setembro de 2010

analfabetismo no Brasil

Analfabetismo atinge 14,1 milhões de pessoas



WALDIR OLIVEIRA não sabe assinar seu próprio nome e passa o dia colhendo material reciclável nas ruas


DEPOIS DE UM ANO fora da escola, Laura, de 15 anos, cursa o 5º ano


Na faixa de 6 a 14 anos, país tem 97,6% das crianças na escola. Cresce também o estudo entre adolescentes

Liana Melo, Rennan Setti, Letícia Lins e Demétrio Weber

RIO, RECIFE e BRASÍLIA. O carroceiro Waldir Oliveira, pernambucano de 34 anos, não sabe ler nem escrever. Nem seu nome ele sabe assinar. É nas ruas de Recife que ele ganha a vida, catando material reciclável.

Waldir é um dos 14,1 milhões de brasileiros que engordam as estatísticas oficiais de analfabetismo.

Fazem parte da taxa de analfabetismo especialmente homens, com 15 anos ou mais, e, sobretudo, moradores do Nordeste do país. Entre a população de 50 anos ou mais, a taxa de analfabetismo no Nordeste chega a 40,1%.

- O analfabetismo é um produto da sociedade brasileira - diagnostica o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, lembrando que, de 2008 para 2009, houve uma pequena redução do analfabetismo, de 10% para 9,7%.

"É uma maldição do passado", diz especialista Dados da Pnad indicam que a taxa de escolarização, de crianças de 6 a 14 anos, cresceu 1,5 ponto percentual de 2004 para 2009, atingindo 97,6%. Já de 2008 para o ano passado, o maior crescimento registrado foi na faixa de 15 a 17 anos, que variou de 84,1% para 85,2%.

Laura Santos, de 15 anos, é um exemplo de quem luta para continuar estudando. Após trocar com a família o Centro do Rio pela Zona Oeste, a jovem foi obrigada a abandonar a escola.

A mudança ocorreu há um ano e, só recentemente, ela pôde voltar aos bancos escolares, após a família voltar ao antigo bairro. Laura hoje está cursando a 5ª série, à noite: - Estou conseguindo recuperar o que perdi.

O pesquisador do Ipea Sergei Soares está convencido de que o "analfabetismo é uma maldição do passado, da qual não temos como escapar". A única forma de estancá-lo é parar de produzir analfabetos.

No Nordeste se concentram 19,8% dos analfabetos do país.

A segunda posição, entre as regiões com maior proporção de analfabetos, ficou com o Norte, com taxa de 10,6%, seguido por Centro-Oeste (8,0%), Sudeste (5,7%) e Sul (5,5%).

Apesar dessa taxa de analfabetismo, o consultor da Unesco para Educação, Célio da Cunha, está convencido de que o país fez progressos: - Precisamos fechar a fábrica de analfabetos, porque tirá-los desta condição, sobretudo entre os mais velhos, é muito difícil.

Escola técnica deve ser prioridade do novo governo A proliferação de escolas técnicas no país, defende Cunha, deveria ser prioridade do próximo governo. Assim como atacar o analfabetismo funcional, aquele que atinge jovens acima de 15 anos, com menos de quatro anos de estudos completos. O analfabetismo funcional foi de 20,3% em 2009.

Em 2008, havia ficado em 21%.

Apesar de a taxa de analfabetismo ser maior até do que, inclusive, a população de Cuba - de 11,2 milhões de pessoas -o ministro da Educação, Fernando Haddad, ressalta o indicador de cobertura educacional. É que, segundo ele, está em sintonia com a elevação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, considerado principal indicador de qualidade do ensino brasileiro. Haddad está convencido de que o país atingirá a universalização, de 4 a 17 anos, até 2016. Ele ainda aposta que o analfabetismo pode cair para 6,7% em 2015, como prevê a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

O GLOBO

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