13. Para Edgar Morin, é preciso dedicação para compreender os problemas globais
Filósofo e sociólogo francês Edgar Morin abriu a Conferência Internacional dos Sete Saberes, realizada até esta quinta-feira na Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Aos 89 anos de idade, falando uma mistura de português com espanhol e italiano, o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin abriu nesta terça-feira (21/9) uma conferência internacional na capital cearense. O tema do encontro foi inspirado na obra de Morin. Durante quatro dias, educadores e pesquisadores irão discutir "Os Sete Saberes Necessários Para uma Educação do Presente".
A plateia formada por professores e profissionais da área de educação ouviu atenta a palestra de Morin, que é considerado um dos maiores pensadores da atualidade. O francês falou sobre os desafios de se construir uma "educação para a civilização".
"A questão da pobreza está ligada à desigualdade, que está ligada à perda de solidariedade. Todos os problemas estão ligados. É importante compreender que temos problemas de civilização e, para resolver, devemos encontrar novos caminhos de reforma que podem conjugar-se em uma metamorfose. Quando um sistema não tem mais poder de tratar seus problemas fundamentais, ele regressa", disse.
Segundo o filósofo, essa educação civilizatória precisa ter como princípios a compreensão humana, a solidariedade e a responsabilidade. Edgar Morin defendeu que a sociedade hoje precisa de 'mundiólgos' que possam enxergar e criar soluções para os problemas globais. Para isso, segundo ele, é necessário que o conhecimento seja menos fragmentado e que o modelo de ensino seja modificado.
"É preciso religar todas as disciplinas produzidas como conhecimento, contextualizar os saberes. O ensino deve se integrar a muitas exemplificações históricas e contemporâneas para que os alunos entendam como enfrentar as ambiguidades de hoje", afirmou.
Um exemplo dessa fragmentação, segundo Morin, é a própria medicina moderna. "Ela é muito boa na criação de remédios, vacinas. Mas é especializada demais. Os médicos não são capazes de ver um organismo total, uma pessoa no seu ambiente social, ela é cortada em pedacinhos. Os antigos médicos de família tinham a possibilidade de entender a complexidade dos pacientes", comparou.
Crítico do pensamento reducionista, Morin defendeu que o mundo está demasiadamente ocidentalizado, mas que, na ciência ocidental, há "o melhor e o pior" e que é preciso unir o que há de melhor em cada cultura.
"A coisa extraordinária é que, na vida cotidiana, temos muito pouca compreensão para o estrangeiro, para outros povos que têm uma cultura outra que não é a nossa. Há incompreensão nas famílias, nas civilizações, em tudo. Há um veneno de incompreensão que faz uma degradação permanente da nossa vida", apontou.
Há dez anos Morin escreveu o livro "Os Sete Saberes à Educação do Futuro", que foi publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Os saberes fundamentais apontados por ele são: as cegueiras do conhecimento, o conhecimento pertinente, ensinar a condição humana, ensinar a identidade terrena, enfrentar as incertezas, ensinar a compreensão e a ética do gênero humano.
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