12 de agosto de 2011

Bernardo Toro: Conceito de educação deve mudar


12 de agosto de 2011
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Toro:economias sustentável não combina como critério de ganhar e perder

Silvia Torikachvili
Para o Valor, de São Paulo

Educação, para Bernado Toro, filósofo e educador colombiano conhecido pela defesa da escola igual para todos, deve ser fator de aglutinação. "Não é possível pensar em sociedade sustentável com uma educação para os nossos filhos e outra para os filhos dos outros", diz. "Não é possível propor uma sociedade inclusiva com dois tipos de educação." Em debate sobre a "Educação para a Sustentabilidade", durante a conferência do Ethos realizada esta semana, Toro alertou que a economia sustentável não combina com o critério de ganhar e perder.
"O ganha-ganha é hoje o maior desafio pedagógico de ensinar como lidar com o emocional, político, econômico, social, cultural e até espiritual." Toro enfatizou também a importância da aprendizagem do cuidado em todo processo educativo - saber cuidar de si, do outro, do intelecto, do planeta e da espiritualidade. E falou ainda da cultura da hospitalidade - "sem ela os grandes países vão fazer matanças contra imigrantes".
Para chegar pelo menos perto da educação sustentável a que Toro se refere são necessárias profundas transformações nos currículos escolares. Com isso concordou Antonio Carlos Ronca, representante do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Conselho Nacional de Educação (CNE). Por lei, segundo Ronca, os currículos deveriam ter educação ambiental de forma transversal em todas as disciplinas.
"Os conceitos de educação sustentável passam distante do aluno, que aprende regra de três, raiz quadrada, num currículo amarrado, com conhecimentos ministrados há séculos", disse Ronca. "Incluir novos conceitos é uma questão de sobrevivência", afirmou. Ronca advertiu ainda que a única forma de vencer o analfabetismo é a opção das escolas pela sustentabilidade.
O presidente do Grupo de Empresas e Fundações (Gife), Fernando Rossetti, foi a voz do investimento social privado em educação. Entre as 130 organizações que compõem o Gife, 20% a 25% dos investimentos são aplicados na educação 60% das ações são concentradas nas áreas de atuação das empresas.
"O setor privado aplica no setor público para elevar os níveis de educação no país", disse Rossetti.
"O Todos pela Educação [articulado por empresas] é um movimento que nasceu no setor privado para que todos tenham acesso a educação de qualidade", citou como exemplo.
A articulação dos jovens em torno dos temas ambientais foi destacada por Rangel Mohedano, consultor em políticas públicas de juventude e meio ambiente.
"O papel da educação para a sustentabilidade é trazer as questões para enfrentar as crises; é olhar para os próprios erros", disse. Para Rangel, a geração atual é estratégica para a mudança de modelo. "É a mais vulnerável, sem acesso às ferramentas e sem conhecimento necessário para o desafio." Para que a sustentabilidade faça parte da educação é necessário pensar a escola como espaço de construção da cidadania, de construção de um país novo, na opinião de Roberto Leão, da Confederação Nacional dos Professores.
"O Brasil precisa de um projeto de política de financiamento que vá além dos 5% que o governo aplica em educação", disse.
O papel da escola é fundamental para a sustentabilidade, na opinião de Leão. "Quando há respeito à diversidade, o resultado é sustentabilidade", disse. Leão advertiu ainda que um novo paradigma para a educação não pode conviver com a tolerância ao analfabetismo, nem com trabalho escravo.
"Não se pode admitir que a sétima economia do mundo conviva com trabalho escravo".
Roberto Leão considera fundamental que a Rio + 20, conferência das Nações Unidas sobre economia verde que será realizada ano que vem, inclua a educação entre os temas. Vera Masagão, diretora da Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais (Abong ), lembrou que na Rio 92 um novo ator político surgiu em cena - justamente as ONGs. "Surgiu uma nova forma de organizar a sociedade civil para suprir a ausência do Estado", disse ela. "Desse projeto social nasceu uma nova forma de fazer política; e um dos espaços mais apropriados para a juventude é a prática política." Rangel, que representa a juventude e o meio ambiente, disse que a nova geração está longe de ser passiva. "Estamos fazendo uma revolução silenciosa; é só olhar para a transformação dos jovens e constatar".
Roberto Leão, do Centro do Professorado, ressaltou que a valorização dos professores está na remuneração, mas principalmente numa formação consistente e sólida. "Escola pública tem de valorizar além do português e matemática", disse. "Escola precisa mais dinheiro e gestão de qualidade", disse. Para ele, o professor precisa conhecer a escola e a história da escola para entender o atual modelo, "até para ter condições de mudar tudo".
Leão advertiu que a escola não é nem pode ser espaço para competição.
"Competição não faz avançar; o que faz avançar de verdade é a solidariedade, a construção coletiva." Para Vera Masagão, além da solidariedade, a discussão deveria ficar centrada na nova economia, na nova política. "A educação deve ser focada em direitos iguais", afirmou.
Em uma das consultas realizadas junto aos participantes da conferência do Ethos, 96% consideraram que os educadores não têm o papel que deveriam na formulação de propostas para a Rio + 20. Em outra questão, se a sociedade está preparada para pagar aos professores salários condizentes ao que a sociedade exige deles, a plateia ficou dividida: 54% (sim) contra 46% (não).
Em sua fala final, Antonio Carlos Ronca, adiantou que o Conselho Nacional de Educação acaba de lançar as diretrizes para a nova educação infantil e para os ensinos fundamental e médio. "Es Governança Especialistas pedem que companhias divulguem relatórios periódicos sobre sustentabilidade Hora de acelerar as práticas ambientais CLAUDIO BELLI/VALOR Carlos Eduardo Lessa Brandão pede uma política que obrigue as empresas a divulgar relatórios de sustentabilidade Roberto Rockmann Para o Valor , de São Paulo A inclusão dos temas ambientais e sociais na pauta corporativa poderia ser acelerada no Brasil com a criação da obrigatoriedade de divulgação de relatórios de sustentabilidade, uma ferramenta que contribui para a disseminação das práticas sustentáveis nas empresas que envolvem todos seus stakeholders (aqueles que têm interesse na empresa) na elaboração dos documentos.
Na Suécia, todas as estatais são obrigadas a publicar um relatório em que destacam suas ações econômicas, sociais e ambientais.
Na Dinamarca, as empresas abertas e estatais têm o mesmo compromisso. Na África do Sul, a divulgação periódica de um relatório integrado de informações econômicas e socioambientais é um critério de listagem das companhias negociadas em bolsa.
"Poderíamos demandar do governo, das agências reguladoras do mercado e da Bolsa de Valores uma política em que todas as empresas listadas na Bolsa ou estatais tivessem de divulgar relatórios de sustentabilidade. Se elas não o fazem, teriam de explicar qual a estratégia para que não o façam", diz o vice-presidente do Conselho de Stakeholders do GRI (Global Report Initiative), Carlos Eduardo Lessa Brandão.
Para ele, se uma decisão nesse sentido fosse tomada, o Brasil poderia ser um dos países a liderar esse movimento de aumento da transparência. "Soubemos, por exemplo, que a Prefeitura do Rio de Janeiro está trabalhando num relatório nesses moldes", afirma.
A divulgação periódica das ações socioambientais, riscos e impactos envolvidos não é o único ponto de governança que o Brasil deve melhorar para ingressar na nova economia.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Gilberto Mifano, um ponto essencial é a formação dos conselhos das empresas, já que governança corporativa é um sistema de decisão e de monitoramento das decisões tomadas que deve incluir todos os stakeholders, para que assim eles sejam integrados à estratégia corporativa.
"Os conselhos são essenciais para que seja feito o controle das decisões tomadas. Eles também devem refletir a diversidade de stakeholders, por isso eles precisam ser muito bem escolhidos, com gente capacitada, e não olhar apenas o acionista", diz Mifano. Nos conselhos, também podem surgir discussões para a criação de novos padrões de consumo e de produção, essenciais para a nova economia.
"Vivemos sob a tirania do curto prazo, do resultado trimestral, o que traz problemas para a criação de políticas de longo prazo. Os conselheiros podem equilibrar processos e desenhar políticas para os novos tempos", diz Mifano.
Para Chico Whitaker, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, "é preciso modificar a estrutura de produção, que é baseada na acumulação de lucros".
Já a gerente de responsabilidade socioambiental do Rabobank, Daniela Mariuzzo, diz que o envolvimento de toda a cadeia de valor é essencial para disseminar as práticas sustentáveis e fazer com que todos do produtor rural ao varejo até a instituição financeira compartilhem das mesmas crenças.
A instituição holandesa, com foco no agronegócio, começou há dez anos a adotar a sustentabilidade como elemento chave das suas práticas, sob a expectativa de que, se o produtor rural conduz bem sua propriedade e utiliza bem os recursos naturais, isso também se reflete na gestão financeira.
"Como o setor financeiro se relaciona com todos os elos da cadeia, ele é um dos grandes atores das mudanças. Nesse contexto, criamos mesas redondas sustentáveis em que reunimos todos os elos de uma cadeia para debater o tema", diz Daniela.
Em 2006, um evento foi montado com o setor de soja. Em um mesmo espaço, foram convidados produtores rurais, processadores, comerciantes e varejo.
Uma das conclusões era de que os produtores poderiam criar certificação da soja, reforçando que seu plantio e colheita não causavam desmatamento.
"Conseguimos incentivar respostas que estão contribuindo para o meio ambiente. Nossa ideia de governança também implica a criação de soluções financeiras sustentáveis para toda a cadeia de valor", diz a executiva.
Por exemplo, podem ser criados mecanismos financeiros que tornem a floresta de pé rentável, evitando seu desmatamento.
Para Odilon Faccio, diretor do Instituto Primeiro Plano, é essencial a participação do Estado como indutor de um novo modelo de governança que fortaleça a sociedade civil e amplie a interação entre trabalhadores, empresários e órgãos públicos.
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, aponta que o governo vem buscando ampliar a interação entre capital e trabalho. Um exemplo está sendo visto na cadeia do etanol. Alguns países que compravam o biocombustível brasileiro começaram a questionar as condições de plantio da cana-de-açúcar, questionando se não havia trabalho escravo nas usinas. Governo, usineiros e trabalhadores se sentaram à mesa e criaram uma certificação de boas práticas de trabalho.
"Nesse momento, as empresas estão passando por auditoria para analisar se estão cumprindo o que prometeram. A ideia é que elas concedam benefícios que vão muito além das obrigações legais, com ganhos de alimentos e transportes para os trabalhadores", destaca Carvalho.
Outro exemplo está na área de construção civil. Depois dos problemas trabalhistas verificados na construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, governo, empresas e trabalhadores se sentaram de novo à mesa para buscar bons resultados para os dois lados.
tamos finalizando as diretrizes para o ensino profissionalizante.
"Nosso desafio é lançar as diretrizes para a educação ambiental." Rossetti, do Gife, criticou as escolas por seguirem os conceitos da revolução industrial. "A linha de montagem que surgiu nas escolas com professores específicos para cada fase emergiu de uma revolução industrial que não está preparada para uma sociedade mais justa e responsável", avaliou.
Toro resumiu o que acredita ser a transformação que todos buscam: "Ter um projeto de vida pessoal, abrir espaço para a possibilidade de dar e receber ajuda e multiplicar a informação acumulada", disse. "O resto está no Google."

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